imagem ilustrativa mostrando o efeito da saúde mental no trabalho

Saúde mental no trabalho: descubra por que é imprescindível

A saúde mental no trabalho é um pilar fundamental para o sucesso profissional. Neste contexto, a atenção à saúde psíquica se torna um investimento estratégico, capaz de alavancar a carreira. 

Quando estamos bem no conjunto corpo, mente e cérebro, principalmente em ambientes estressantes como o trabalho, consegue-se ser mais produtivo, mais atento, mais tranquilo e mais feliz ao exercer cada tarefa.

Ademais, a promoção de um ambiente laboral saudável reflete diretamente no bem-estar dos colaboradores. Portanto, é imperativo que líderes e gestores reconheçam a importância de práticas que salvaguardem a integridade mental no espaço corporativo. 

Assim, ao adotar medidas preventivas e interventivas, seja de forma coletiva ou individual, é possível não apenas prevenir transtornos psiquiátricos, mas também potencializar o desempenho e a satisfação dos profissionais.

Introdução à saúde mental no ambiente corporativo

A saúde mental compreende o bem-estar emocional, psicológico e social, afetando a maneira como pensamos, sentimos e agimos. No ambiente de trabalho, sua relevância é incontestável; ela é o alicerce para uma força de trabalho resiliente e inovadora. 

A saúde mental no trabalho demanda uma abordagem holística e integrativa, visando não apenas a prevenção de doenças, mas também a promoção da saúde psíquica. 

A implementação de políticas de saúde mental evidencia o compromisso corporativo com o desenvolvimento humano e organizacional. E, em complemento, é fortemente recomendado que os profissionais também busquem assistência personalizada em saúde mental por conta própria.

O que é saúde mental e por que ela é crucial no trabalho?

Saúde mental é um estado de equilíbrio interno que permite ao indivíduo lidar com as demandas e desafios do dia a dia. 

No contexto laboral, uma boa saúde mental é crucial; ela é a engrenagem que impulsiona a criatividade, a tomada de decisões e a solução de problemas. A saúde mental robusta sustenta a capacidade de trabalho, enquanto sua negligência pode levar ao esgotamento profissional. 

Portanto, é fundamental que os profissionais, especialmente aqueles de cargos mais altos, que demandam muita pressão mental, busquem atendimento especializado em saúde mental para obter benefícios em suas vidas e suas carreiras.

Impacto da saúde mental nos resultados profissionais

A saúde mental dos colaboradores é um componente crítico que influencia diretamente os resultados profissionais. Portanto, investir em um tratamento psiquiátrico e psicológico que valorize a saúde mental auxilia a estimular a motivação, a criatividade e a produtividade. 

Além disso, colaboradores com boa saúde mental tendem a ter melhor desempenho, são mais engajados e possuem maior capacidade de inovação. 

Inversamente, a negligência da saúde mental no trabalho pode resultar em absenteísmo, taxas de burnout elevadas e diminuição da qualidade do trabalho. Em outras palavras, investir na saúde mental é uma estratégia inteligente também para o sucesso corporativo.

Benefícios de investir na saúde mental

Investir na saúde mental transcende a prevenção de doenças; é um catalisador para uma vida enriquecedora e produtiva em todos os âmbitos. 

A atenção à saúde mental no trabalho reduz custos com licenças médicas e aumenta a retenção de talentos, refletindo em um retorno financeiro significativo tanto para as pessoas, quanto para a organização. 

Além disso, um investimento consciente em saúde mental fortalece a imagem corporativa, atraindo profissionais de alto calibre. Ao mesmo tempo, investir na própria saúde mental pode impulsionar a carreira ou ajudar na redefinição individual de objetivos de vida.

Empresas que valorizam a saúde mental desfrutam de equipes mais coesas, com melhor comunicação e colaboração, o que é decisivo em um mercado competitivo.

Como a saúde mental pode impulsionar a carreira

Uma robusta saúde mental permite uma melhor gestão do estresse e uma recuperação mais rápida de reveses, habilitando o profissional a enfrentar desafios com maior agilidade. 

Além disso, a clareza mental amplia a capacidade de foco e aprimora habilidades de liderança, essenciais para o crescimento profissional. 

A saúde mental no trabalho também favorece o networking, já que profissionais com boa saúde emocional tendem a ser mais acessíveis e colaborativos, qualidades valorizadas em qualquer nível hierárquico.

A relevância da saúde mental para líderes corporativos

imagem ilustrativa de uma mulher trabalhando com notebook e com saúde mental no trabalho 3

Executivos enfrentam estresse constante, tornando essencial o cuidado com a saúde mental para uma liderança eficaz e decisões acertadas. A resiliência emocional não só favorece a gestão de equipes, mas também impulsiona um ambiente de trabalho positivo e mais leve. 

Em outras palavras, a inteligência emocional, fortalecida por práticas de autocuidado diárias, é vital para o sucesso nas dinâmicas corporativas e relações interpessoais. Priorizar a saúde mental é sinônimo de valorização do capital humano. 

Assim sendo, líderes, executivos, chefes de equipe e outros diversos cargos de alta hierarquia que possuem muito com o que lidar, ao transformar o cuidado mental em uma prática semanal, podem se beneficiar imensamente na vida pessoal e no ambiente laboral.

Identificando problemas de saúde mental no trabalho

A identificação precoce de problemas de trabalho é crucial para uma intervenção eficaz. Sintomas como a queda de produtividade, o isolamento social e mudanças de humor podem ser indicativos de questões subjacentes. 

Outros sinais incluem a dificuldade de concentração, a sensação de exaustão constante e a diminuição do engajamento com as atividades laborais. 

Estes sintomas, quando não abordados, podem escalar para condições mais graves, afetando a qualidade de vida do profissional e a dinâmica do trabalho.

Sinais de alerta e sintomas comuns

Sinais de alerta de problemas de saúde mental incluem alterações no comportamento, como irritabilidade, apatia ou ansiedade. Sintomas comuns também abrangem dificuldades no sono, alterações no apetite e sentimentos persistentes de desânimo. 

Estes sintomas podem ser manifestações de condições como depressão, ansiedade ou burnout. É essencial que os profissionais estejam atentos a estes sinais e busquem apoio quando necessário.

Consequências da negligência com a saúde mental

A negligência com a saúde mental no trabalho pode ter consequências devastadoras. Pode levar a um declínio na qualidade do trabalho, aumento de conflitos interpessoais e, em casos extremos, a problemas de saúde física. 

A longo prazo, isso pode resultar em absenteísmo, demissões e até mesmo a incapacidade de manter o emprego. Portanto, é fundamental que tanto empregadores quanto empregados tomem medidas proativas para manter a saúde mental.

Estratégias para melhorar a saúde mental

Para melhorar a saúde mental no trabalho, estratégias eficazes incluem a criação de uma cultura organizacional que priorize o bem-estar psicológico.

Outra solução necessária é a busca de atendimento psiquiátrico e psicológico individual, para um tratamento personalizado e exclusivo, focado nas suas necessidades.

Além disso, é vital encorajar os profissionais a estabelecer limites saudáveis e a comunicar suas necessidades, fomentando assim um diálogo aberto sobre saúde mental.

Práticas de autocuidado e gestão do estresse

Práticas de cuidado e autocuidado são essenciais para a manutenção da saúde mental. Tais práticas incluem uma alimentação balanceada, exercícios físicos regulares e momentos de lazer. 

Técnicas de gestão do estresse, como a meditação e a atenção plena (mindfulness), também são ferramentas valiosas. Estas práticas ajudam a reduzir a tensão diária e a manter o foco, contribuindo para um desempenho profissional mais estável e eficiente.

Importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional

O equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um componente crítico para a saúde mental. A capacidade de desconectar-se do trabalho e dedicar tempo a interesses pessoais e familiares é vital para a recuperação do estresse laboral. 

Além disso, esse equilíbrio promove uma maior satisfação com a vida, o que se reflete positivamente na saúde mental e, consequentemente, no desempenho profissional. 

As organizações devem incentivar esse equilíbrio, respeitando os momentos de descanso e férias dos colaboradores, contribuindo para a sustentabilidade da saúde mental no trabalho.

Saúde mental como ferramenta estratégica

imagem ilustrativa de um funcionário no ambiente corporativo com saúde mental no trabalho

A saúde mental é um ativo estratégico para líderes e executivos. Ela é a base para a alta performance, a inovação e a liderança eficaz. 

Adotar práticas de saúde mental não é apenas benéfico, é uma necessidade para quem busca excelência e sucesso sustentável no ambiente corporativo. 

Portanto, agende sua consulta com o Dr. Petrus  e veja como a saúde mental pode ser o diferencial na sua carreira.

Se você apreciou este conteúdo e reconhece a importância do equilíbrio emocional para a sua trajetória profissional, continue acessando nosso blog!


Gravidade clínica e metabolismo do cálcio no Transtorno Bipolar

Gravidade clínica e metabolismo do cálcio no Transtorno Bipolar

Por Dr. Petrus Raulino

Uma pesquisa publicada na revista Brain Science e realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de Campania, Itália, sugere que a homeostase do cálcio pode desempenhar um papel na gravidade do Transtorno Bipolar.

Níveis séricos de cálcio, vitamina D e paratormônio (PTH) podem teoricamente ser usados como marcadores de inflamação crônica e, consequentemente, de neuroinflamação.

A homeostase do cálcio está implicada em vários processos fisiológicos, como o equilíbrio da homeostase do sistema músculo-esquelético, a modulação imunológica, o sistema de defesa antioxidante e em diversos processos inflamatórios.

Já o PTH (hormônio da paratireóide) regula os níveis de cálcio circulante e intracelular no Sistema Nervoso Central. Em níveis elevados, pode induzir morte celular por sobrecarga de cálcio.

O PTH também promove a conversão da vitamina D em sua forma ativa, estando envolvido na regulação neuroprotetora e anti-inflamatória. A vitamina D modula a síntese de neurotransmissores, influenciando o humor.

Altos níveis de PTH podem estar associados a danos neurais e são associados a maior ônus e piores resultados clínicos do Transtorno Bipolar.

No estudo publicado, foram selecionados 199 pacientes com Transtorno Bipolar tipo 1 (54,8%) ou tipo 2. Nenhum paciente apresentava comorbidades neurológicas ou abuso de substâncias. Foram obtidas amostras de sangue para os exames de todos.

Resultados da pesquisa

O principal achado do estudo foi a associação entre níveis elevados de PTH e gravidade do Transtorno Bipolar, o que pode ser devido a vários fatores.

Primeiro, os níveis de PTH podem influenciar os níveis de neuroinflamação crônica, que está significativamente associada a um maior ônus da doença e uma apresentação clínica mais grave do transtorno.

Altos níveis de PTH podem levar a alterações dos neurotransmissores, desenvolvimento cerebral disfuncional, redução da imunorregulação e ações anti-inflamatórias.

Segundo, a relação entre os níveis elevados de PTH e a idade de início pode ser devido a uma deficiência crônica de vitamina D, que desencadeia o processo de neuroinflamação.

Terceiro, a associação entre comportamentos agressivos e níveis elevados de PTH pode ser explicada pelo papel do desequilíbrio do cálcio na síntese de neurotransmissores de serotonina através das vias do triptofano.

Por fim, sabe-se que 25% dos pacientes tratados com lítio podem apresentar hipercalcemia secundária a aumento dos níveis de PTH.

Conclusão

Os resultados sugerem que o desequilíbrio do cálcio pode influenciar o prognóstico de longo prazo da patologia Bipolar. Os níveis de PTH, vitamina D e cálcio nos pacientes com Transtorno Bipolar devem ser acompanhados por serem um marcador de gravidade clínica.

 

Referências

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Epigenética da depressão

Epigenética da depressão

Por Dr. Petrus Raulino

Sabe-se que o estresse pode desencadear a depressão. Por isso, a concepção atual sobre a etiologia da depressão leva em consideração fatores ambientais e genéticos, interagindo e modulando uns aos outros.

Nos últimos anos, tem crescido a base de evidência da epigenética como um terceiro fator plausível.

Um artigo publicado no periódico Journal of Personalized Medicine revisou estudos recentes que sugerem uma associação significativa entre epigenética e mecanismos moleculares da depressão, assim como da resposta ao tratamento.

O que é Epigenética?

Epigenética é o conjunto de modificações genéticas herdáveis que não alteram a sequência do DNA.

Modificações epigenéticas

As modificações epigenéticas não estão restritas a uma fase específica da vida. Ou seja, ocorrem desde a fecundação e continuam a acontecer durante toda a vida. Além disso, são sensíveis a mudanças ambientais.

As modificações epigenéticas podem ser divididas em: metilação do DNA, modificação pós-traducional da histona e interferência de microRNA (miRNA) ou de RNA não codificante longo (lncRNA).

As modificações epigenéticas são capazes de influenciar a gravidade da doença e o resultado da farmacoterapia.

Há marcas epigenéticas que são introduzidas durante eventos prejudiciais no início da vida, refletindo uma maior vulnerabilidade à depressão ao longo da vida do indivíduo.

Resultados do estudo

O estudo concluiu que muitas evidências sugerem fortemente que as modificações epigenéticas estão associadas à etiopatogênese da depressão, neuroplasticidade, tratamento com antidepressivos e, mais que isso, podem ser consideradas como potenciais biomarcadores da depressão.

Os dados apresentados também sugeriram que, do ponto de vista clínico, inibidores de histona desacetilase (HDACis) poderiam servir como novos agentes antidepressivos mesmo em um futuro próximo.

Além disso, embora o envolvimento da metilação do DNA, de modificações de histonas e de mudanças na expressão de miRNA tenha sido substancialmente investigado na patogênese e terapia da depressão, a pesquisa voltada para lncRNAs ainda é muito incipiente.

Portanto, estudar as interações entre lncRNAs, miRNAs e vários mRNAs alvo pode ser um caminho interessante para pesquisas futuras.

 

Referências

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COVID-19 afeta a neurobiologia do suicídio?

COVID-19 afeta a neurobiologia do suicídio?

Por Dr. Petrus Raulino

Uma revisão publicada na revista Current Psychiatry Reports analisou o efeito da COVID-19 nas características biológicas da vulnerabilidade ao suicídio e sua interação com as vias biológicas relacionadas ao suicídio.

A hipótese é que o SARS-CoV-2 interage com vários processos biológicos subjacentes ao comportamento suicida, como o sistema renina-angiotensina, receptores nicotínicos (desregulação da via anti-inflamatória colinérgica) e inflamação central e sistêmica.

Além disso, as medidas de distanciamento social também podem piorar a desconexão social objetiva (distanciamento físico) ou subjetiva (solidão), aumentando o risco principalmente em pessoas com predisposição para transtornos mentais.

Quanto ao sistema renina-angiotensina, pesquisas recentes sobre a COVID-19 demonstraram que o vírus entra nas células hospedeiras por meio da interação de sua proteína “spike” com o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE-2), diminuindo a atividade da mesma.

Ao desequilibrar as vias metabólicas da ACE/ACE-2, a COVID-19 pode teoricamente afetar a vulnerabilidade para o suicídio em indivíduos que carregam os genótipos de “risco” da ACE.

Os pacientes em risco de suicídio podem apresentar maior suscetibilidade à desregulação do eixo hipotálamo-hipófise adrenal após a infecção por SARS-CoV-2 porque o vírus tem como alvo o ACE-2 e pode afetar o equilíbrio ACE/ACE-2 que está associado à desregulação do eixo hipotálamo-hipófise adrenal em indivíduos deprimidos.

A inflamação relacionada à COVID-19 também pode se estender ao Sistema Nervoso Central por meio da quebra da barreira hematoencefálica, neuroinvasão viral e secreção de citocinas.

Nas infecções virais, vários mecanismos podem relacionar-se a neuroinflamação: transporte axonal retrógrado do vírus da mucosa respiratória, inflamação periférica que modula a função cerebral e migração de células mononucleares transportando o vírus através da barreira hematoencefálica.

No cérebro, a infecção por SARS-CoV-2 pode teoricamente iniciar uma inflamação crônica de baixo grau que altera as funções cognitivas e induz neurotoxicidade e neurodegenaração, preparando assim o terreno para a ocorrência de transtornos psiquiátricos.

O conhecimento das interações entre a COVID-19 e a neurobiologia do suicídio pode trazer benefícios para o desenvolvimento de tratamentos de prevenção ao suicídio no contexto da pandemia.

Além disso, pode ajudar a desmistificar a busca por tratamento com médico psiquiatra e medicamentos contra a Covid.

 

Referências

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Capsulotomia por Gamma Knife para transtorno obsessivo compulsivo intratável

Capsulotomia por Gamma Knife para Transtorno Obsessivo Compulsivo intratável

Por Dr. Petrus Raulino

Em um artigo publicado na revista Molecular Psychiatry, pesquisadores revisaram a evolução da psicocirurgia (neurocirurgia em psiquiatria) para Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC).

A psicocirurgia é reservada apenas para pacientes com TOC grave, incapacitante e refratário a várias tentativas de tratamento com medicação e psicoterapia. Os critérios de indicação são bastante rigorosos.

No passado, em uma época quando o tratamento farmacológico em psiquiatria era praticamente inexistente, a primeira fase da neurocirurgia em psiquiatria foi um período caracterizado principalmente por critérios de indicação pouco claros.

Havia um desconhecimento da neurobiologia dos quadros psiquiátricos. As técnicas cirúrgicas eram inadequadas, com lesões extensas e irreversíveis que produziam grandes efeitos adversos.

Atualmente, com o avanço da tecnologia e do conhecimento científico, o tratamento dos transtornos mentais graves por meio da neurocirurgia vem ganhando força na psiquiatria.

Uma modalidade neurocirúrgica atualmente utilizada é a capsulotomia por Gamma Knife. É parecida com radioterapia, onde feixes de raios gama são focalizados em regiões específicas do cérebro de forma não invasiva, induzindo uma “lesão” extremamente precisa.

Por meio desta técnica, há a interrupção de conexões entre áreas pré-frontais (dlPFC, OFC lateral e medial, vmPFC, ACC) e substância cinzenta subcortical (estriado ventral, núcleo dorsomedial do tálamo, hipotálamo, estria terminal, ponte e cinza periaquedutal) implicadas no TOC.

O objetivo é diminuir a gravidade dos sintomas, modulando as vias neurais do TOC, mas também aumentando a eficácia das terapias farmacológicas e psicológicas que funcionam de forma sinérgica com a capsulotomia por Gamma Knife.

As possíveis complicações incluem edema do lobo frontal ou a rara formação de cistos radionecróticos tardios, que são mais frequentes com antigas técnicas de capsulotomia. Esses eventos adversos se tornaram muito menos comuns com as novas doses de radiação e estratégias de direcionamento da capsulotomia por Gamma Knife.

Este procedimento deve ser realizado em centros especializados, capazes de oferecer cuidados multidisciplinares e de longo prazo, para o paciente e seus familiares.

 

Referências

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Análise do genoma revela extensa sobreposição genética entre esquizofrenia, transtorno bipolar e inteligência

Genoma revela sobreposição entre Esquizofrenia e Transtorno Bipolar

Por Dr. Petrus Raulino

Um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry analisou dados de estudo de associação genômica ampla entre Esquizofrenia, Transtorno Bipolar e inteligência geral para investigar sobreposição de variantes genéticas comuns.

Esquizofrenia e Transtorno Bipolar

A Esquizofrenia e o Transtorno Bipolar são transtornos mentais mundialmente reconhecidos entre as principais causas de morbidade e mortalidade no mundo.

Embora sejam diferentes, podem eventualmente compartilhar algumas características clínicas, incluindo alterações do humor, pensamento, percepção e funcionamento social.

As manifestações clínicas desses transtornos podem ser acompanhadas por comprometimento cognitivo, embora este tenda a ser mais grave na Esquizofrenia do que no Transtorno Bipolar.

Dentre os domínios cognitivos estão funções executivas, aprendizagem verbal, velocidade de processamento e memória, bem como inteligência geral.

Evidências crescentes indicam que o risco genético para Esquizofrenia pode contribuir para o comprometimento cognitivo.

Por sua vez, a relação genética entre Transtorno Bipolar e função cognitiva ainda permanece pouco compreendida.

No estudo em questão ficou demonstrado uma sobreposição poligênica entre inteligência, Esquizofrenia e Transtorno Bipolar.

Um locus é o local fixo em um cromossomo onde está localizado determinado gene ou marcador genético.

No estudo, foram identificados 75 loci gênicos associados em conjunto com Esquizofrenia e inteligência e 12 loci gênicos associados em conjunto com Transtorno Bipolar e inteligência.

Entre os loci compartilhados, 20 foram novos loci de risco para Esquizofrenia e 4 foram novos para Transtorno Bipolar.

Ao todo, o estudo indicou que grandes frações das arquiteturas de risco genético subjacentes a Esquizofrenia, mutações genéticas e Transtorno Bipolar também influenciam a inteligência, embora de maneira diferente.

Os resultados sugeriram que a relação genética entre os três (Esquizofrenia, Transtorno Bipolar e inteligência) é mais complexa do que é expresso por suas correlações genéticas, o que pode explicar a diversidade de desempenho cognitivo entre os diferentes grupos de pacientes.

A pesquisa forneceu novos insights sobre as bases genéticas e moleculares do desempenho cognitivo alterado nesses grupos de pacientes.

 

Referências

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Green, M. F. (2006). Cognitive impairment and functional outcome in schizophrenia and bipolar disorder. Journal of Clinical Psychiatry, 67, 3.


Medicina de precisão para transtornos de humor

Medicina de precisão para transtornos de humor

Por Dr. Petrus Raulino

O que são os transtornos de humor?

Os transtornos de humor afetam 1 em cada 4 pessoas ao longo da vida. Além de incapacitantes, são também co-mórbidos com outros transtornos psiquiátricos.

Devido à falta de testes objetivos para diagnóstico e ao estigma, os transtornos de humor costumam ser subdiagnosticados ou mal diagnosticados (por ex., diagnóstico de depressão em vez de transtorno bipolar).

Estudo sobre medicina de precisão

Para mudar o processo frequentemente longo de obter um diagnóstico e tratamento psiquiátrico, uma equipe da Indiana University of Medicine analisou como a medicina de precisão, através de biomarcadores sanguíneos de expressão gênica, poderia ajudar nesse cenário. 

O estudo foi publicado na revista Molecular Psychiatry.

Os biomarcadores indicam a ocorrência de uma determinada função normal ou patológica de um organismo ou uma resposta a um agente farmacológico. Eles são usados, principalmente, para o diagnóstico ou para identificar riscos de ocorrência de uma doença em um paciente.

No estudo, foram encontrados 26 biomarcadores sanguíneos de expressão gênica principais, cujas análises foram levadas adiante. Os biomarcadores foram testados quanto à capacidade preditiva e utilidade clínica em coortes independentes adicionais. 

Para o estudo, foram recrutados voluntários em três coortes independentes:

  1. descoberta” de 26 biomarcadores (uma coorte longitudinal de indivíduos com mudanças diametralmente opostas no estado de humor em pelo menos duas visitas de teste consecutivas); 
  2. validação dos 26 biomarcadores “descobertos” (uma coorte independente de indivíduos com depressão ou mania clinicamente grave); 
  3. teste dos 26 biomarcadores “descobertos” (uma coorte independente para testar a capacidade dos biomarcadores de predizer estados de humor, depressão clínica ou mania, e para predizer futuras hospitalizações por depressão ou mania).

Resultados da pesquisa

Os resultados da pesquisa mostraram a utilidade dos biomarcadores para avaliar riscos que impactam a evolução clínica de pacientes com transtornos de humor.

Esse trabalho foi um grande passo em direção à compreensão, diagnóstico e tratamento dos transtornos de humor. 

A expectativa é de que futuramente os biomarcadores preditores de risco possam ser úteis em abordagens preventivas, antes que se manifeste o transtorno totalmente desenvolvido ou ocorra recidiva. 

 

Referências

Le-Niculescu, H., Roseberry, K., Gill, S. S., Levey, D. F., Phalen, P. L., Mullen, J., ... & Niculescu, A. B. (2021). Precision medicine for mood disorders: objective assessment, risk prediction, pharmacogenomics, and repurposed drugs. Molecular Psychiatry, 1-29.

Lenze, E. J., Rodebaugh, T. L., & Nicol, G. E. (2020). A framework for advancing precision medicine in clinical trials for mental disorders. JAMA psychiatry77(7), 663-664.

Alhajji, L., & Nemeroff, C. B. (2015). Personalized medicine and mood disorders. Psychiatric Clinics38(3), 395-403.


Neuroimagem e estrutura cerebral em transtornos psiquiátricos

Neuroimagem e estrutura cerebral em transtornos psiquiátricos

Por Dr. Petrus Raulino

Sobre os estudos de neuroimagem

Estudos de neuroimagem têm demonstrado de forma consistente alterações cerebrais em diferentes transtornos psiquiátricos. 

Esses estudos têm uma grande relevância científica, mas não necessariamente trazem impacto imediato na prática clínica. São muitas as razões para isso.

O “padrão-ouro” atual para diagnóstico de um transtorno psiquiátrico é o conjunto de informações sobre sintomas e comportamentos, e não uma descrição das características biológicas.

Os achados biológicos estatisticamente significativos em transtornos psiquiátricos nos estudos de neuroimagem em geral são muito sutis. 

Os achados replicados em estudos são aproximados, e as amostras são heterogêneas, ainda que compostas por pacientes com o mesmo transtorno.

Por tudo isso, não há biomarcadores universalmente aceitos para o diagnóstico psiquiátrico. Exames sofisticados custam recursos e nem sempre trazem informações que dariam suporte à decisão médica de utilidade clínica.

Mas nem por isso as pesquisas devem ser interrompidas. 

Nas últimas décadas, a ciência tem realizado pesquisas que buscam um melhor entendimento da neurobiologia dos mecanismos etiológicos dos transtornos psiquiátricos. 

O grande objetivo é encontrar meios de potencializar os esforços preventivos e terapêuticos.

Novos estudos publicados

Um estudo publicado na revista Biological Psychiatry mostrou – através de estudos de mega e meta-análises de neuroimagem – anormalidades estruturais em seis diferentes transtornos psiquiátricos: Transtorno Depressivo Maior (TDM), Transtorno Bipolar (TB), Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Esse estudo foi realizado através do consórcio ENIGMA (Enhancing Neuro Imaging Genetics Through Meta Analysis), que reúne pesquisadores para entender a relação entre estrutura, função e doenças do cérebro, com base em imagens cerebrais e dados genéticos.

Foram estudadas a espessura cortical e as diferenças de volumes de estruturas subcorticais entre indivíduos com e sem transtornos psiquiátricos.

O estudo buscou quantificar a sobreposição de alterações na estrutura cerebral entre transtornos diferentes e também identificar regiões cerebrais com anormalidades transtorno-específicas.

Resultados do estudo

Os resultados encontrados demonstraram que existe correlação entre anormalidades estruturais do cérebro no TDM, TB, Esquizofrenia e TOC.

Foi observada uma assinatura morfométrica compartilhada desses transtornos que mostrou pouca semelhança com os padrões estruturais do cérebro relacionados ao envelhecimento fisiológico.

Por outro lado, padrões de anormalidades estruturais cerebrais independentes de todos os outros transtornos foram observados tanto no TDAH quanto no TEA. 

Regiões do cérebro que mostraram altas proporções de variância independente foram identificadas para cada transtorno com o objetivo de localizar anormalidades morfométricas específicas do transtorno.

Conclusão

Esses achados levantaram a questão de até que ponto as anormalidades estruturais do cérebro podem representar traços neurobiológicos de doenças mentais que são específicos para transtornos ou se seriam traços transdiagnósticos.

Muitas são as questões, mas a jornada de investigação científica continua. Uma melhor compreensão da neurobiologia dos transtornos psiquiátricos pode nos ajudar futuramente a aperfeiçoar os meios para prevenção e tratamento.

 

Referências

Opel, N., Goltermann, J., Hermesdorf, M., Berger, K., Baune, B. T., & Dannlowski, U. (2020). Cross-disorder analysis of brain structural abnormalities in six major psychiatric disorders: a secondary analysis of mega-and meta-analytical findings from the ENIGMA consortium. Biological Psychiatry88(9), 678-686.

Falkai, P., Schmitt, A., & Andreasen, N. (2018). Forty years of structural brain imaging in mental disorders: is it clinically useful or not?. Dialogues in clinical neuroscience20(3), 179.

Scarr, E., Millan, M. J., Bahn, S., Bertolino, A., Turck, C. W., Kapur, S., ... & Dean, B. (2015). Biomarkers for psychiatry: the journey from fantasy to fact, a report of the 2013 CINP think tank. International Journal of Neuropsychopharmacology18(10), pyv042.

Kapur, S., Phillips, A. G., & Insel, T. R. (2012). Why has it taken so long for biological psychiatry to develop clinical tests and what to do about it?. Molecular psychiatry17(12), 1174-1179.

Linden, D. E. (2012). The challenges and promise of neuroimaging in psychiatry. Neuron73(1), 8-22.

 


Mutação genética ultra rara em pacientes com esquizofrenia

Mutação genética ultra rara em pacientes com Esquizofrenia

Por Dr. Petrus Raulino

 

O que é Esquizofrenia?

A esquizofrenia é um transtorno mental que acomete cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. Muitas pesquisas têm identificado a importância do papel dos genes nesse transtorno.

A genética da esquizofrenia é complexa, multifatorial e poligênica. Há centenas ou talvez milhares de genes envolvidos na doença.

Dada a enorme heterogeneidade da doença, cada paciente é praticamente único na combinação de genes que o levou ao transtorno. 

A identificação de variantes genéticas raras associadas à esquizofrenia tem se mostrado desafiadora devido à heterogeneidade genética das populações. 

Mas uma nova mutação genética que bloqueia a comunicação neural foi descoberta recentemente em pacientes com esquizofrenia. Pode abrir caminho para novas estratégias terapêuticas e aumentar a compreensão da fisiopatologia da doença.

Essa descoberta foi realizada através de um estudo no Feinstein Institutes for Medical Research nos EUA e publicado na revista Neuron.

Estudo sobre genomas com esquizofrenia

O estudo foi realizado com uma população relativamente homogênea, uma coorte de judeus asquenazes, para examinar os genomas de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia e um grupo controle.

O objetivo do estudo foi encontrar mutações isoladas que pudessem ser observadas várias vezes no grupo esquizofrenia.  Isso foi possível com o grupo homogêneo de judeus asquezanes. 

Resultados do estudo

A mutação do gene PCDHA3 foi identificada em cinco dos 786 casos de esquizofrenia. A mutação do gene PCDHA3 é uma variante ultra rara que não foi encontrada em nenhum indivíduo do grupo controle.

O gene PCDHA3 deriva da família do gene da protocaderina e bloqueia a ação dela, não permitindo que os neurônios se reconheçam e se comuniquem com outros neurônios.

Conclusão

Novos estudos serão essenciais para avaliar como o tratamento da esquizofrenia pode melhorar qualquer alteração causada por essa mutação genética.

A descoberta da mutação do gene PCDHA3 em pacientes com esquizofrenia não tem um impacto imediato na prática clínica. Mas tem relevância científica, pois agrega mais uma peça na compreensão sobre as bases genéticas da esquizofrenia.

 

Referências

Lencz, T., Yu, J., Khan, R. R., Flaherty, E., Carmi, S., Lam, M., ... & Pe’er, I. (2021). Novel ultra-rare exonic variants identified in a founder population implicate cadherins in schizophrenia. Neuron.

Charlson, F. J., Ferrari, A. J., Santomauro, D. F., Diminic, S., Stockings, E., Scott, J. G., ... & Whiteford, H. A. (2018). Global epidemiology and burden of schizophrenia: findings from the global burden of disease study 2016. Schizophrenia bulletin44(6), 1195-1203.

Mistry, S., Harrison, J. R., Smith, D. J., Escott-Price, V., & Zammit, S. (2018). The use of polygenic risk scores to identify phenotypes associated with genetic risk of schizophrenia: Systematic review. Schizophrenia research197, 2-8.

Avramopoulos, D. (2018). Recent advances in the genetics of schizophrenia. Molecular neuropsychiatry4(1), 35-51.

Henriksen, M. G., Nordgaard, J., & Jansson, L. B. (2017). Genetics of schizophrenia: overview of methods, findings and limitations. Frontiers in human neuroscience11, 322.


Modulação do canal iônico de potássio para tratamento da depressão

Modulação do canal iônico de potássio para tratamento da depressão?

Por Dr. Petrus Raulino

Um novo estudo desenvolvido pela Icahn School of Medicine Mount Sinai e publicado na revista American Journal of Psychiatry mostrou que a ezogabina, um fármaco que abre canais de potássio do tipo KCNQ2/3 no cérebro, pode estar associada à melhora de sintomas depressivos e anedonia.

O estudo é de fase 2, portanto ainda não serve como recomendação para mudança na conduta médica. Mas encoraja para a realização de novas pesquisas de fase 3 que poderiam fundamentar intervenções na prática clínica.

A ezogabina foi aprovada pela Food and Drug Administration dos EUA em 2011 como anticonvulsivante para o tratamento da epilepsia, mas não havia sido estudada anteriormente na depressão. 

Esse estudo é o primeiro ensaio clínico randomizado controlado por placebo a mostrar que um fármaco que afeta esse tipo de canal iônico no cérebro pode melhorar os sintomas depressivos.

O estudo foi realizado com 45 pacientes adultos com diagnóstico de depressão que foram submetidos a um período de 5 semanas de tratamento com dosagem diária de ezogabina ou placebo.

Em comparação com os pacientes tratados com placebo, aqueles tratados com ezogabina mostraram uma redução significativa em vários sintomas importantes da depressão, incluindo a anedonia.

O alvo da ezogabina é o canal KCNQ2/3, que é membro de uma grande família de canais iônicos que atuam como controladores importantes da excitabilidade das células cerebrais e do funcionamento do sistema nervoso central. 

Esses canais afetam a função das células cerebrais, controlando o fluxo da carga elétrica através da membrana celular na forma de íons de potássio (K+).

Os achados da pesquisa podem representar uma nova linha de pesquisas para o desenvolvimento de tratamentos novos e eficazes para a depressão.

 

Referências

Costi, S., Morris, L. S., Kirkwood, K. A., Hoch, M., Corniquel, M., Vo-Le, B., ... & Murrough, J. W. (2021). Impact of the KCNQ2/3 channel opener ezogabine on reward circuit activity and clinical symptoms in depression: results from a randomized controlled trial. American Journal of Psychiatry, appi-ajp.

Stafstrom, C. E., Grippon, S., & Kirkpatrick, P. (2011). Ezogabine (retigabine). Nature Reviews Drug Discovery10(10), 729-730.