Por Dr. Petrus Raulino

Uma pesquisa publicada na revista Biological Psychiatry analisou as diferenças genéticas subjacentes entre os sexos para entender porque o Transtorno Bipolar, a Esquizofrenia e o transtorno depressivo maior afetam homens e mulheres de modo e em graus diferentes.

Foram investigadas as diferenças sexuais na arquitetura genética de vinte traços neuropsiquiátricos e comportamentais usando estatísticas sumárias de análise de associação genômica ampla (GWAS) autossômica estratificada por sexo.

Foram usadas três abordagens complementares – incluindo estimativa de herdabilidade baseada em polimorfismo de nucleotídeo único (SNP), correlação genética e análises de heterogeneidade – para avaliar as diferenças de sexo dentro das características e entre pares de características.

A análise de associação genômica ampla identificou quase uma dúzia de polimorfismos de nucleotídeo único que diferiam entre homens e mulheres com diagnóstico de um dos três transtornos.

Os polimorfismos de nucleotídeo único são uma variação na sequência de DNA que afeta somente uma base nitrogenada – adenina (A), timina (T), citosina (C) ou guanina (G) – na sequência do genoma entre indivíduos de uma espécie ou entre pares de cromossomos de um individuo.

Em alguns casos, um polimorfismo de nucleotídeo único estava ligado apenas à doença em um sexo, enquanto em outros casos o mesmo polimorfismo de nucleotídeo único diminuía a probabilidade de desenvolver um distúrbio em um sexo enquanto a aumentava no outro.

Os genes que abrigam esses polimorfismos de nucleotídeo único foram ligados às vias de desenvolvimento vascular, imunológico e neuronal, fornecendo pistas sobre a interação entre a saúde cardiovascular e neurológica.

Embora a maioria dos efeitos genéticos para traços neuropsiquiátricos e comportamentais sejam semelhantes para homens e mulheres, os efeitos genéticos diferenciados por sexo podem ser identificados.

Nesse estudo foi evidenciado pela primeira vez que uma parte dos efeitos genéticos diferenciados por sexo é distribuída entre traços.

As diferenças entre os sexos na arquitetura genética autossômica comum dos fenótipos neuropsiquiátricos e comportamentais são pequenas e poligênicas. É improvável que expliquem por completo os atributos sexualmente diferenciados que observamos.

Serão necessários estudos adicionais, com amostras maiores, para avançar na identificação dos efeitos diferenciados por sexo para a maioria dos traços.

Mas o referido estudo tem implicações importantes para o futuro da pesquisa em diferenças sexuais.

Compreender a base biológica das diferenças sexuais nas doenças humanas, incluindo os fenótipos neuropsiquiátricos, é fundamental para o desenvolvimento de diagnósticos e terapêuticas baseados no sexo e para cumprir a meta da medicina de precisão.

 

Referências

Martin, J., Khramtsova, E. A., Goleva, S. B., Blokland, G. A., Traglia, M., Walters, R. K., … & Stahl, E. (2021). Examining sex-differentiated genetic effects across neuropsychiatric and behavioral traits. Biological Psychiatry.

Khramtsova, E. A., Davis, L. K., & Stranger, B. E. (2019). The role of sex in the genomics of human complex traits. Nature Reviews Genetics, 20(3), 173-190.