Por Dr. Petrus Raulino

O que é Esquizofrenia?

Esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico crônico e potencialmente incapacitante que pode afetar a capacidade de pensar, sentir e se comportar adequadamente.

Atinge cerca de 1% da população mundial.

Não há conhecimento, até o momento, de causa específica que provoque a esquizofrenia, mas sabe-se que a combinação de fatores biológicos, incluindo genéticos, e do ambiente podem desencadear a doença.

Para tratá-la com mais eficácia é necessário um melhor entendimento sobre a doença.

Estudo sobre as bases biológicas da esquizofrenia

Um estudo publicado na revista Translational Psychiatry procurou compreender um pouco mais as bases biológicas da esquizofrenia.

Foram coletadas pequenas amostras de tecido cerebral post-mortem de indivíduos saudáveis e pacientes com diagnóstico de esquizofrenia.

As áreas foram giro temporal superior e córtex cingulado anterior.

O cérebro tem uma arquitetura modular na qual diferentes áreas com diferentes origens genéticas exercem funções distintas, por isso foram coletadas amostradas de duas áreas.

Entretanto, deve-se destacar que a concepção atual da arquitetura cortical é mais heterogênea do que se pensava no passado.

As amostras foram colocadas em RX e ótica de alta resolução para capturar imagens tridimensionais destes tecidos cerebrais.

O equipamento usado tinha alta resolução que pode chegar a 10 nanômetros. Isto permitiu comparar as estruturas dos neurônios entre as áreas do cérebro de cada indivíduo e entre indivíduos.

 

Imagens em 3D de neurônios de paciente com esquizofrenia, obtidas por raios-X e ótica de alta resolução. Mostram neuritos ondulados e distorcidos, o que pode indicar que a condição esteja ligada ao formato dos neurônios.
Imagens em 3D de neurônios de paciente com esquizofrenia, obtidas por raios-X e ótica de alta resolução. Mostram neuritos ondulados e distorcidos, o que pode indicar que a condição esteja ligada ao formato dos neurônios. Crédito: Ryuta Mizutani

Resultados do estudo

Os casos de esquizofrenia mostraram uma rede neuronal fina e tortuosa em relação ao grupo controle, sugerindo que a estrutura do neurônio pode estar associada ao transtorno.

Além disso, a grande heterogeneidade de neurônios demonstrada nos casos de esquizofrenia pode estar associada a desequilíbrios funcionais entre as áreas do cérebro que podem resultar em distúrbios da função cerebral total.

Conclusão

Apesar dos achados, há necessidade de mais pesquisas para compreender fatores que influenciam o processo no qual alterações estruturais dos neurônios podem ocorrer na esquizofrenia.

Mosaicismo genético, fatores ambientais e diferenças de educação entre os indivíduos fornecem estímulos diferentes para diferentes áreas do cérebro, podendo também resultar em diferenças nas estruturas neuronais entre as áreas do cérebro.

De qualquer modo, o estudo tem o mérito de despertar a atenção para algumas peças do grande quebra-cabeça sobre as bases biológicas da esquizofrenia.

 

 

Referências

Mizutani, R., Saiga, R., Yamamoto, Y., Uesugi, M., Takeuchi, A., Uesugi, K., … & Arai, M. (2021). Structural diverseness of neurons between brain areas and between cases. Translational psychiatry, 11(1), 1-9.

Bertolero, M. A., Yeo, B. T., & D’Esposito, M. (2015). The modular and integrative functional architecture of the human brain. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(49), E6798-E6807.

Lodato, M. A., Woodworth, M. B., Lee, S., Evrony, G. D., Mehta, B. K., Karger, A., … & Walsh, C. A. (2015). Somatic mutation in single human neurons tracks developmental and transcriptional history. Science, 350(6256), 94-98.

Amunts, K., & Zilles, K. (2015). Architectonic mapping of the human brain beyond Brodmann. Neuron, 88(6), 1086-1107.