Por Dr. Petrus Raulino

Em um artigo publicado na revista Molecular Psychiatry, pesquisadores revisaram a evolução da psicocirurgia (neurocirurgia em psiquiatria) para Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC).

A psicocirurgia é reservada apenas para pacientes com TOC grave, incapacitante e refratário a várias tentativas de tratamento com medicação e psicoterapia. Os critérios de indicação são bastante rigorosos.

No passado, em uma época quando o tratamento farmacológico em psiquiatria era praticamente inexistente, a primeira fase da neurocirurgia em psiquiatria foi um período caracterizado principalmente por critérios de indicação pouco claros.

Havia um desconhecimento da neurobiologia dos quadros psiquiátricos. As técnicas cirúrgicas eram inadequadas, com lesões extensas e irreversíveis que produziam grandes efeitos adversos.

Atualmente, com o avanço da tecnologia e do conhecimento científico, o tratamento dos transtornos mentais graves por meio da neurocirurgia vem ganhando força na psiquiatria.

Uma modalidade neurocirúrgica atualmente utilizada é a capsulotomia por Gamma Knife. É parecida com radioterapia, onde feixes de raios gama são focalizados em regiões específicas do cérebro de forma não invasiva, induzindo uma “lesão” extremamente precisa.

Por meio desta técnica, há a interrupção de conexões entre áreas pré-frontais (dlPFC, OFC lateral e medial, vmPFC, ACC) e substância cinzenta subcortical (estriado ventral, núcleo dorsomedial do tálamo, hipotálamo, estria terminal, ponte e cinza periaquedutal) implicadas no TOC.

O objetivo é diminuir a gravidade dos sintomas, modulando as vias neurais do TOC, mas também aumentando a eficácia das terapias farmacológicas e psicológicas que funcionam de forma sinérgica com a capsulotomia por Gamma Knife.

As possíveis complicações incluem edema do lobo frontal ou a rara formação de cistos radionecróticos tardios, que são mais frequentes com antigas técnicas de capsulotomia. Esses eventos adversos se tornaram muito menos comuns com as novas doses de radiação e estratégias de direcionamento da capsulotomia por Gamma Knife.

Este procedimento deve ser realizado em centros especializados, capazes de oferecer cuidados multidisciplinares e de longo prazo, para o paciente e seus familiares.

 

Referências

Miguel, E. C., Lopes, A. C., McLaughlin, N. C., Norén, G., Gentil, A. F., Hamani, C., … & Sheth, S. A. (2019). Evolution of gamma knife capsulotomy for intractable obsessive-compulsive disorder. Molecular psychiatry, 24(2), 218-240.

Rasmussen, S. A., Noren, G., Greenberg, B. D., Marsland, R., McLaughlin, N. C., Malloy, P. J., … & Lindquist, C. (2018). Gamma ventral capsulotomy in intractable obsessive-compulsive disorder. Biological psychiatry, 84(5), 355-364.

Hirschtritt, M. E., Bloch, M. H., & Mathews, C. A. (2017). Obsessive-compulsive disorder: advances in diagnosis and treatment. Jama, 317(13), 1358-1367.

McGovern, R. A., & Sheth, S. A. (2017). Role of the dorsal anterior cingulate cortex in obsessive-compulsive disorder: converging evidence from cognitive neuroscience and psychiatric neurosurgery. Journal of Neurosurgery, 126(1), 132-147.

Rück, C., Larsson, J. K., Mataix-Cols, D., & Ljung, R. (2017). A register-based 13-year to 43-year follow-up of 70 patients with obsessive–compulsive disorder treated with capsulotomy. BMJ open, 7(5), e013133.

Brown, L. T., Mikell, C. B., Youngerman, B. E., Zhang, Y., McKhann, G. M., & Sheth, S. A. (2016). Dorsal anterior cingulotomy and anterior capsulotomy for severe, refractory obsessive-compulsive disorder: a systematic review of observational studies. Journal of neurosurgery, 124(1), 77-89.

Fineberg, N. A., Reghunandanan, S., Simpson, H. B., Phillips, K. A., Richter, M. A., Matthews, K., … & Sookman, D. (2015). Obsessive–compulsive disorder (OCD): practical strategies for pharmacological and somatic treatment in adults. Psychiatry research, 227(1), 114-125.

Lopes, A. C., Greenberg, B. D., Canteras, M. M., Batistuzzo, M. C., Hoexter, M. Q., Gentil, A. F., … & Miguel, E. C. (2014). Gamma ventral capsulotomy for obsessive-compulsive disorder: a randomized clinical trial. JAMA psychiatry, 71(9), 1066-1076.

Nuttin, B., Wu, H., Mayberg, H., Hariz, M., Gabriëls, L., Galert, T., … & Schlaepfer, T. (2014). Consensus on guidelines for stereotactic neurosurgery for psychiatric disorders. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 85(9), 1003-1008.

Garnaat, S. L., Greenberg, B. D., Sibrava, N. J., Goodman, W. K., Mancebo, M. C., Eisen, J. L., & Rasmussen, S. A. (2014). Who qualifies for deep brain stimulation for OCD? Data from a naturalistic clinical sample. The Journal of neuropsychiatry and clinical neurosciences, 26(1), 81-86.

Pauls, D. L., Abramovitch, A., Rauch, S. L., & Geller, D. A. (2014). Obsessive–compulsive disorder: an integrative genetic and neurobiological perspective. Nature Reviews Neuroscience, 15(6), 410-424.

Sheth, S. A., Neal, J., Tangherlini, F., Mian, M. K., Gentil, A., Cosgrove, G. R., … & Dougherty, D. D. (2013). Limbic system surgery for treatment-refractory obsessive-compulsive disorder: a prospective long-term follow-up of 64 patients. Journal of neurosurgery, 118(3), 491-497.

Greenberg, B. D., Rauch, S. L., & Haber, S. N. (2010). Invasive circuitry-based neurotherapeutics: stereotactic ablation and deep brain stimulation for OCD. Neuropsychopharmacology, 35(1), 317-336.