Por Dr. Petrus Raulino

Sobre os estudos de neuroimagem

Estudos de neuroimagem têm demonstrado de forma consistente alterações cerebrais em diferentes transtornos psiquiátricos. 

Esses estudos têm uma grande relevância científica, mas não necessariamente trazem impacto imediato na prática clínica. São muitas as razões para isso.

O “padrão-ouro” atual para diagnóstico de um transtorno psiquiátrico é o conjunto de informações sobre sintomas e comportamentos, e não uma descrição das características biológicas.

Os achados biológicos estatisticamente significativos em transtornos psiquiátricos nos estudos de neuroimagem em geral são muito sutis. 

Os achados replicados em estudos são aproximados, e as amostras são heterogêneas, ainda que compostas por pacientes com o mesmo transtorno.

Por tudo isso, não há biomarcadores universalmente aceitos para o diagnóstico psiquiátrico. Exames sofisticados custam recursos e nem sempre trazem informações que dariam suporte à decisão médica de utilidade clínica.

Mas nem por isso as pesquisas devem ser interrompidas. 

Nas últimas décadas, a ciência tem realizado pesquisas que buscam um melhor entendimento da neurobiologia dos mecanismos etiológicos dos transtornos psiquiátricos. 

O grande objetivo é encontrar meios de potencializar os esforços preventivos e terapêuticos.

Novos estudos publicados

Um estudo publicado na revista Biological Psychiatry mostrou – através de estudos de mega e meta-análises de neuroimagem – anormalidades estruturais em seis diferentes transtornos psiquiátricos: Transtorno Depressivo Maior (TDM), Transtorno Bipolar (TB), Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Esse estudo foi realizado através do consórcio ENIGMA (Enhancing Neuro Imaging Genetics Through Meta Analysis), que reúne pesquisadores para entender a relação entre estrutura, função e doenças do cérebro, com base em imagens cerebrais e dados genéticos.

Foram estudadas a espessura cortical e as diferenças de volumes de estruturas subcorticais entre indivíduos com e sem transtornos psiquiátricos.

O estudo buscou quantificar a sobreposição de alterações na estrutura cerebral entre transtornos diferentes e também identificar regiões cerebrais com anormalidades transtorno-específicas.

Resultados do estudo

Os resultados encontrados demonstraram que existe correlação entre anormalidades estruturais do cérebro no TDM, TB, Esquizofrenia e TOC.

Foi observada uma assinatura morfométrica compartilhada desses transtornos que mostrou pouca semelhança com os padrões estruturais do cérebro relacionados ao envelhecimento fisiológico.

Por outro lado, padrões de anormalidades estruturais cerebrais independentes de todos os outros transtornos foram observados tanto no TDAH quanto no TEA. 

Regiões do cérebro que mostraram altas proporções de variância independente foram identificadas para cada transtorno com o objetivo de localizar anormalidades morfométricas específicas do transtorno.

Conclusão

Esses achados levantaram a questão de até que ponto as anormalidades estruturais do cérebro podem representar traços neurobiológicos de doenças mentais que são específicos para transtornos ou se seriam traços transdiagnósticos.

Muitas são as questões, mas a jornada de investigação científica continua. Uma melhor compreensão da neurobiologia dos transtornos psiquiátricos pode nos ajudar futuramente a aperfeiçoar os meios para prevenção e tratamento.

 

Referências

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