Por Dr. Petrus Raulino

Sabe-se que o estresse pode desencadear a depressão. Por isso, a concepção atual sobre a etiologia da depressão leva em consideração fatores ambientais e genéticos, interagindo e modulando uns aos outros.

Nos últimos anos, tem crescido a base de evidência da epigenética como um terceiro fator plausível.

Um artigo publicado no periódico Journal of Personalized Medicine revisou estudos recentes que sugerem uma associação significativa entre epigenética e mecanismos moleculares da depressão, assim como da resposta ao tratamento.

O que é Epigenética?

Epigenética é o conjunto de modificações genéticas herdáveis que não alteram a sequência do DNA.

Modificações epigenéticas

As modificações epigenéticas não estão restritas a uma fase específica da vida. Ou seja, ocorrem desde a fecundação e continuam a acontecer durante toda a vida. Além disso, são sensíveis a mudanças ambientais.

As modificações epigenéticas podem ser divididas em: metilação do DNA, modificação pós-traducional da histona e interferência de microRNA (miRNA) ou de RNA não codificante longo (lncRNA).

As modificações epigenéticas são capazes de influenciar a gravidade da doença e o resultado da farmacoterapia.

Há marcas epigenéticas que são introduzidas durante eventos prejudiciais no início da vida, refletindo uma maior vulnerabilidade à depressão ao longo da vida do indivíduo.

Resultados do estudo

O estudo concluiu que muitas evidências sugerem fortemente que as modificações epigenéticas estão associadas à etiopatogênese da depressão, neuroplasticidade, tratamento com antidepressivos e, mais que isso, podem ser consideradas como potenciais biomarcadores da depressão.

Os dados apresentados também sugeriram que, do ponto de vista clínico, inibidores de histona desacetilase (HDACis) poderiam servir como novos agentes antidepressivos mesmo em um futuro próximo.

Além disso, embora o envolvimento da metilação do DNA, de modificações de histonas e de mudanças na expressão de miRNA tenha sido substancialmente investigado na patogênese e terapia da depressão, a pesquisa voltada para lncRNAs ainda é muito incipiente.

Portanto, estudar as interações entre lncRNAs, miRNAs e vários mRNAs alvo pode ser um caminho interessante para pesquisas futuras.

 

Referências

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