Escetamina: o que é e para que serve?

O que é e para que serve escetamina? Milhões pelo mundo lutam contra a depressão resistente. Ela promete alívio rápido dos sintomas depressivos.

Esse avanço representa uma espécie de revolução no tratamento da depressão, mudando o panorama de recuperação. Mas como exatamente a escetamina destaca-se na luta contra a depressão resistente? Vamos nos debruçar por essa solução terapêutica, que promete transformar a vida dos que buscaram soluções em vão.

Pontos de atenção

Diante do combate à depressão resistente, a escetamina é destacada como uma nova opção terapêutica. Ela se diferencia pela capacidade de melhorar rapidamente os sintomas depressivos. Isso é um avanço importante para pacientes que não se beneficiaram de tratamentos convencionais. Mas é importante estar atento aos seguintes pontos:

  • A ⁠infusão de cetamina para depressão é off label no Brasil, sendo on label (recomendação oficial) apenas a forma S (escetamina) intranasal no Brasil;
  • O tratamento com cloridrato de escetamina é indicado para pacientes que não responderam a outros antidepressivos;
  • A ação rápida da escetamina pode aliviar sintomas depressivos em menos de 24 horas após a administração;
  • A aprovação pela Anvisa torna o uso de escetamina específico para o ambiente hospitalar ou clínica autorizada, sob monitoramento médico;
  • A escetamina oferece um novo mecanismo de ação como modulador de glutamato, diferenciando-se de outros antidepressivos;
  • O monitoramento médico é essencial devido aos potenciais efeitos colaterais da escetamina;
  • O uso da escetamina requer cuidados especiais para prevenir abuso e dependência;
  • A escetamina e sua função como tratamento inovador para depressão.

O que é a escetamina?

A escetamina trata adultos com depressão que não tiveram êxito com outros tratamentos. Por meio do uso intranasal, ela traz esperança para uma melhora eficaz e rápida dos sintomas graves.

Portanto, é um medicamento utilizado principalmente para o tratamento da depressão resistente ao tratamento (DRT) ou seja, transtorno depressivo maior (TDM) em adultos que não responderam adequadamente a outros antidepressivos, e para a rápida redução de sintomas depressivos em pacientes com comportamento ou ideação suicida aguda.

É um enantiômero do composto químico cetamina e atua como um antagonista do receptor NMDA, que está envolvido na modulação do humor e da percepção da dor. É administrada sob a forma de spray nasal e deve ser usada sob supervisão médica devido ao seu potencial para efeitos colaterais e abuso.

Indicações da escetamina e seu papel na depressão resistente ao tratamento

A escetamina deve ser recomendada por um psiquiatra bem qualificado e utilizada em ambientes controlados, como hospitais e clínicas especializadas. Em geral ela serve como tratamento coadjuvante aos antidepressivos orais, aumentando as chances de melhora ao proporcionar alívio mais rápido da doença.

Ação rápida da escetamina e seus efeitos nos sintomas depressivos

Um dos destaques da escetamina é a sua ação rápida. A melhora dos sintomas é frequentemente observada nas primeiras 24 horas. Isso representa uma revolução no tratamento de uma condição tão complexa quanto a depressão.

A escetamina, devido à sua ação como antagonista do receptor NMDA, pode proporcionar alívio rápido dos sintomas depressivos, muitas vezes dentro de horas ou dias, em comparação com as semanas que podem ser necessárias para que os antidepressivos tradicionais façam efeito.

Essa rapidez na ação torna a escetamina uma opção valiosa para pessoas com depressão grave e para aqueles que não tiveram sucesso com outros tratamentos.

Os efeitos podem incluir melhora do humor, aumento da energia e diminuição dos pensamentos suicidas. No entanto, os efeitos a longo prazo e a segurança do uso contínuo ainda estão sendo estudados. Além disso, seus benefícios tendem a ser transitórios e fugazes.

Mecanismos de ação: como a escetamina atua no organismo?

É vital entender como a escetamina opera no cérebro para compreender seu efeito contra a depressão. Esse medicamento se destaca por ser um modulador de glutamato, um mecanismo de ação que difere dos tratamentos convencionais. Isso marca um avanço importante no tratamento da saúde mental.

A escetamina atua no organismo como um antagonista seletivo do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA), um subtipo de receptor de glutamato.

Ao bloquear esses receptores, a escetamina interfere na transmissão de sinais entre os neurônios mediados pelo glutamato, um neurotransmissor chave envolvido na regulação do humor e na cognição.

Este bloqueio pode resultar em um estímulo para maior atividade de outros neurotransmissores, como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, que podem contribuir para os efeitos antidepressivos e para a melhora do humor.

A escetamina também parece promover a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar, o que pode ajudar a aliviar os sintomas depressivos.

Além disso, a escetamina parece ativar o sistema opióide, o que pode implicar em aumento do risco de dependência que deve ser muito bem avaliado pelo médico.

Receptores de glutamato e conexões neuronais

A escetamina interage diretamente com os receptores de glutamato, essenciais para a conexão entre células cerebrais. O glutamato, principal neurotransmissor excitatório do cérebro, desempenha um papel crucial na formação de memórias e na plasticidade cerebral.

Através da modulação desse neurotransmissor, a escetamina parece ajudar a reparar as conexões neurais danificadas pela depressão.

Diferenças entre a escetamina e outros antidepressivos

Os antidepressivos tradicionais atuam principalmente através da ação da serotonina e noradrenalina. A escetamina, por outro lado, foca no ajuste da atividade do glutamato, sua ação se baseia em um paradigma inovador e tem trazido resultados encorajadores, especialmente em casos onde outras abordagens falharam.

Além disso, a escetamina difere dos antidepressivos tradicionais em vários aspectos:

Mecanismo de ação: enquanto a maioria dos antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores de recaptação de serotonina e noradrelalina (IRSN), atuam aumentando a disponibilidade de neurotransmissores como serotonina e/ou noradrenalina, a escetamina atua bloqueando os receptores NMDA do glutamato.

Velocidade de ação: a escetamina pode proporcionar alívio dos sintomas depressivos de forma mais rápida, muitas vezes dentro de horas ou dias, enquanto os antidepressivos tradicionais podem levar semanas para mostrar benefícios.

Via de administração: a escetamina é administrada por via nasal, enquanto a maioria dos antidepressivos tradicionais é administrada por via oral.

Indicação: a escetamina é aprovada especificamente para o tratamento da depressão resistente ao tratamento ou para o transtorno depressivo maior com comportamento ou ideação suicida aguda - em combinação com um antidepressivo oral -, enquanto outros antidepressivos são usados como tratamento de primeira linha.

Efeitos colaterais: a escetamina pode ter um perfil de efeitos colaterais diferente, incluindo dissociação, aumento da pressão arterial, estado confusional, entre outros, que não são comumente associados aos antidepressivos tradicionais.

Potencial de abuso: devido às suas propriedades dissociativas e psicoativas, a escetamina tem um potencial de abuso e dependência, o que requer que seja administrada sob estrita supervisão médica.

Escetamina: uso aprovado e recomendações oficiais no Brasil

A saúde mental no Brasil recebeu um forte impulso com a aprovação da Anvisa para a escetamina intranasal. Esta decisão marca um avanço para terapias mais avançadas e focadas, especialmente para a depressão resistente a tratamentos convencionais.

Como tratamento on label, a escetamina oferece uma nova opção para aqueles que não se beneficiaram de métodos tradicionais. Mas seu uso seguro e efetivo é restrito a ambientes supervisionados, exigindo acompanhamento médico.

Administração exclusiva em hospitais ou clínicas autorizadas

A escetamina é administrada exclusivamente em hospitais ou clínicas autorizadas devido ao seu potencial de efeitos colaterais significativos e ao risco de abuso e mau uso.

Esses locais têm protocolos específicos para monitorar o paciente durante e após a administração do medicamento, garantindo a segurança e eficácia do tratamento. A supervisão médica no momento da administração permite o manejo imediato de quaisquer efeitos adversos. Mas a avaliação da resposta ao fármaco ao longo do tratamento é feita pelo médico psiquiatra que acompanha o paciente.

As redes de saúde têm um papel crucial na implementação correta do tratamento. Por isso, é vital seguir estritamente os protocolos para otimizar os benefícios terapêuticos e reduzir riscos.

Precauções e efeitos colaterais da escetamina

O uso da escetamina como terapia emergencial para depressão que não responde a tratamentos convencionais requer controle rigoroso. Isso assegura, simultaneamente, a eficácia e a segurança para quem a utiliza.

Dada a sua potência e impacto psicotrópico, a supervisão de um especialista é crucial em cada etapa do tratamento. Este acompanhamento busca reduzir riscos de reações adversas, entre elas:

  • Gravidez e amamentação: a segurança da escetamina durante a gravidez e amamentação não está estabelecida, portanto não é recomendada.
  • Dissociação: sensação de estar desconectado de si mesmo e da realidade.
  • Sedação: sonolência ou sensação de calma excessiva.
  • Tontura e náusea: sensações de vertigem ou enjoos.
  • Aumento da pressão arterial: elevações transitórias na pressão arterial imediatamente após a administração.
  • Efeitos cognitivos: dificuldade de atenção, julgamento e pensamento.
  • Efeitos psiquiátricos: aumento da ansiedade, paranóia ou pânico.

Procure um profissional capacitado

Se você está enfrentando o Transtorno Depressivo Maior ou a depressão resistente ao tratamento e procura por uma abordagem especializada, não hesite em agendar uma consulta com o Dr. Petrus Raulino.

Com uma sólida formação em Medicina pela UNICAMP, residência médica em psiquiatria e psicoterapia também pela UNICAMP, e mais de 20 anos de experiência, o Dr. Raulino está preparado para oferecer o suporte e as opções de tratamento que você necessita.


Capsulotomia por Gamma Knife para transtorno obsessivo compulsivo intratável

Capsulotomia por Gamma Knife para Transtorno Obsessivo Compulsivo intratável

Por Dr. Petrus Raulino

Em um artigo publicado na revista Molecular Psychiatry, pesquisadores revisaram a evolução da psicocirurgia (neurocirurgia em psiquiatria) para Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC).

A psicocirurgia é reservada apenas para pacientes com TOC grave, incapacitante e refratário a várias tentativas de tratamento com medicação e psicoterapia. Os critérios de indicação são bastante rigorosos.

No passado, em uma época quando o tratamento farmacológico em psiquiatria era praticamente inexistente, a primeira fase da neurocirurgia em psiquiatria foi um período caracterizado principalmente por critérios de indicação pouco claros.

Havia um desconhecimento da neurobiologia dos quadros psiquiátricos. As técnicas cirúrgicas eram inadequadas, com lesões extensas e irreversíveis que produziam grandes efeitos adversos.

Atualmente, com o avanço da tecnologia e do conhecimento científico, o tratamento dos transtornos mentais graves por meio da neurocirurgia vem ganhando força na psiquiatria.

Uma modalidade neurocirúrgica atualmente utilizada é a capsulotomia por Gamma Knife. É parecida com radioterapia, onde feixes de raios gama são focalizados em regiões específicas do cérebro de forma não invasiva, induzindo uma “lesão” extremamente precisa.

Por meio desta técnica, há a interrupção de conexões entre áreas pré-frontais (dlPFC, OFC lateral e medial, vmPFC, ACC) e substância cinzenta subcortical (estriado ventral, núcleo dorsomedial do tálamo, hipotálamo, estria terminal, ponte e cinza periaquedutal) implicadas no TOC.

O objetivo é diminuir a gravidade dos sintomas, modulando as vias neurais do TOC, mas também aumentando a eficácia das terapias farmacológicas e psicológicas que funcionam de forma sinérgica com a capsulotomia por Gamma Knife.

As possíveis complicações incluem edema do lobo frontal ou a rara formação de cistos radionecróticos tardios, que são mais frequentes com antigas técnicas de capsulotomia. Esses eventos adversos se tornaram muito menos comuns com as novas doses de radiação e estratégias de direcionamento da capsulotomia por Gamma Knife.

Este procedimento deve ser realizado em centros especializados, capazes de oferecer cuidados multidisciplinares e de longo prazo, para o paciente e seus familiares.

 

Referências

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Medicina de precisão para transtornos de humor

Medicina de precisão para transtornos de humor

Por Dr. Petrus Raulino

O que são os transtornos de humor?

Os transtornos de humor afetam 1 em cada 4 pessoas ao longo da vida. Além de incapacitantes, são também co-mórbidos com outros transtornos psiquiátricos.

Devido à falta de testes objetivos para diagnóstico e ao estigma, os transtornos de humor costumam ser subdiagnosticados ou mal diagnosticados (por ex., diagnóstico de depressão em vez de transtorno bipolar).

Estudo sobre medicina de precisão

Para mudar o processo frequentemente longo de obter um diagnóstico e tratamento psiquiátrico, uma equipe da Indiana University of Medicine analisou como a medicina de precisão, através de biomarcadores sanguíneos de expressão gênica, poderia ajudar nesse cenário. 

O estudo foi publicado na revista Molecular Psychiatry.

Os biomarcadores indicam a ocorrência de uma determinada função normal ou patológica de um organismo ou uma resposta a um agente farmacológico. Eles são usados, principalmente, para o diagnóstico ou para identificar riscos de ocorrência de uma doença em um paciente.

No estudo, foram encontrados 26 biomarcadores sanguíneos de expressão gênica principais, cujas análises foram levadas adiante. Os biomarcadores foram testados quanto à capacidade preditiva e utilidade clínica em coortes independentes adicionais. 

Para o estudo, foram recrutados voluntários em três coortes independentes:

  1. descoberta” de 26 biomarcadores (uma coorte longitudinal de indivíduos com mudanças diametralmente opostas no estado de humor em pelo menos duas visitas de teste consecutivas); 
  2. validação dos 26 biomarcadores “descobertos” (uma coorte independente de indivíduos com depressão ou mania clinicamente grave); 
  3. teste dos 26 biomarcadores “descobertos” (uma coorte independente para testar a capacidade dos biomarcadores de predizer estados de humor, depressão clínica ou mania, e para predizer futuras hospitalizações por depressão ou mania).

Resultados da pesquisa

Os resultados da pesquisa mostraram a utilidade dos biomarcadores para avaliar riscos que impactam a evolução clínica de pacientes com transtornos de humor.

Esse trabalho foi um grande passo em direção à compreensão, diagnóstico e tratamento dos transtornos de humor. 

A expectativa é de que futuramente os biomarcadores preditores de risco possam ser úteis em abordagens preventivas, antes que se manifeste o transtorno totalmente desenvolvido ou ocorra recidiva. 

 

Referências

Le-Niculescu, H., Roseberry, K., Gill, S. S., Levey, D. F., Phalen, P. L., Mullen, J., ... & Niculescu, A. B. (2021). Precision medicine for mood disorders: objective assessment, risk prediction, pharmacogenomics, and repurposed drugs. Molecular Psychiatry, 1-29.

Lenze, E. J., Rodebaugh, T. L., & Nicol, G. E. (2020). A framework for advancing precision medicine in clinical trials for mental disorders. JAMA psychiatry77(7), 663-664.

Alhajji, L., & Nemeroff, C. B. (2015). Personalized medicine and mood disorders. Psychiatric Clinics38(3), 395-403.


Modulação do canal iônico de potássio para tratamento da depressão

Modulação do canal iônico de potássio para tratamento da depressão?

Por Dr. Petrus Raulino

Um novo estudo desenvolvido pela Icahn School of Medicine Mount Sinai e publicado na revista American Journal of Psychiatry mostrou que a ezogabina, um fármaco que abre canais de potássio do tipo KCNQ2/3 no cérebro, pode estar associada à melhora de sintomas depressivos e anedonia.

O estudo é de fase 2, portanto ainda não serve como recomendação para mudança na conduta médica. Mas encoraja para a realização de novas pesquisas de fase 3 que poderiam fundamentar intervenções na prática clínica.

A ezogabina foi aprovada pela Food and Drug Administration dos EUA em 2011 como anticonvulsivante para o tratamento da epilepsia, mas não havia sido estudada anteriormente na depressão. 

Esse estudo é o primeiro ensaio clínico randomizado controlado por placebo a mostrar que um fármaco que afeta esse tipo de canal iônico no cérebro pode melhorar os sintomas depressivos.

O estudo foi realizado com 45 pacientes adultos com diagnóstico de depressão que foram submetidos a um período de 5 semanas de tratamento com dosagem diária de ezogabina ou placebo.

Em comparação com os pacientes tratados com placebo, aqueles tratados com ezogabina mostraram uma redução significativa em vários sintomas importantes da depressão, incluindo a anedonia.

O alvo da ezogabina é o canal KCNQ2/3, que é membro de uma grande família de canais iônicos que atuam como controladores importantes da excitabilidade das células cerebrais e do funcionamento do sistema nervoso central. 

Esses canais afetam a função das células cerebrais, controlando o fluxo da carga elétrica através da membrana celular na forma de íons de potássio (K+).

Os achados da pesquisa podem representar uma nova linha de pesquisas para o desenvolvimento de tratamentos novos e eficazes para a depressão.

 

Referências

Costi, S., Morris, L. S., Kirkwood, K. A., Hoch, M., Corniquel, M., Vo-Le, B., ... & Murrough, J. W. (2021). Impact of the KCNQ2/3 channel opener ezogabine on reward circuit activity and clinical symptoms in depression: results from a randomized controlled trial. American Journal of Psychiatry, appi-ajp.

Stafstrom, C. E., Grippon, S., & Kirkpatrick, P. (2011). Ezogabine (retigabine). Nature Reviews Drug Discovery10(10), 729-730.


Medicamentos epigenéticos para transtornos de ansiedade?

Medicamentos epigenéticos para transtornos de ansiedade?

Por Dr. Petrus Raulino

Sobre os medicamentos epigenéticos

Medicamentos epigenéticos para transtornos de ansiedade ainda não são uma realidade na prática clínica, pois estão em fase de pesquisa experimental. Mas vale a pena acompanhar a evolução do conhecimento e saber sobre pesquisas em andamento. 

Os transtornos de ansiedade são transtornos mentais comuns com uma prevalência anual global de 7,3%. A idade de início desses transtornos geralmente é por volta dos 20 anos, com as mulheres tendo duas vezes mais chances de receberem o diagnóstico.

Acredita-se que fatores psicológicos e biológicos contribuam para a patogênese dos transtornos de ansiedade.

Fatores psicológicos

Os fatores psicológicos envolvidos na patogênese envolvem eventos traumáticos e estressantes da vida, especialmente durante a infância. O estresse é conhecido por ativar muitos circuitos neuronais, como os do hipocampo, e o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA).

Dentre os fatores biológicos, estão envolvidos mecanismos epigenéticos de expressão gênica, ou seja, traços complexos envolvendo múltiplos genes interagindo com fatores ambientais (não envolvendo mudanças na sequência do DNA, mas alterando a atividade de genes).

Os mecanismos epigenéticos envolvem mecanismos moleculares como metilação do DNA, hidroximetilação do DNA, modificações de histonas e regulação da expressão gênica mediada por RNA não codificador (ncRNA). 

Fatores biológicos

Fatores ambientais podem provocar alterações nos mecanismos epigenéticos.

Há evidências de que os mecanismos epigenéticos apresentam-se desregulados em praticamente todos os tipos de transtornos psiquiátricos e que esses mecanismos desregulados contribuam para a patogênese.

A importância de novas pesquisas

Existem várias classes de medicamentos eficazes para o tratamento da ansiedade. No entanto, nem todas as pessoas se adaptam aos medicamentos disponíveis atualmente, devido a efeitos colaterais ou falta de resposta terapêutica satisfatória.

Por isso, a importância de novas pesquisas. Uma classe potencial de novos medicamentos para o tratamento da ansiedade são os medicamentos epigenéticos.

Ensaios pré-clínicos e clínicos farmacológicos – ainda experimentais – usando HDACi (inibidor da histona-desacetilase) para o tratamento estão mostrando resultados favoráveis, o que permite a continuidade das pesquisas com amostras maiores de pacientes.

Conclusão

O modo de ação do HDACi em transtornos de ansiedade ainda não está claro. Mais pesquisas são necessárias para elucidar o modo de ação do HDACi no alívio dos sinais e sintomas dos transtornos de ansiedade.

Há um longo caminho a seguir nessa linha de pesquisa, mas o conhecimento científico abre novas possibilidades que poderão transformar futuramente o rol de opções terapêuticas para os transtornos de ansiedade.

 

Referências

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Schiele, M. A., & Domschke, K. (2018). Epigenetics at the crossroads between genes, environment and resilience in anxiety disorders. Genes, Brain and Behavior17(3), e12423.

Stein, D. J., Scott, K. M., de Jonge, P., & Kessler, R. C. (2017). Epidemiology of anxiety disorders: from surveys to nosology and back. Dialogues in clinical neuroscience19(2), 127.

Bartlett, A. A., Singh, R., & Hunter, R. G. (2017). Anxiety and epigenetics. Neuroepigenomics in Aging and Disease, 145-166.

Maron, E., & Nutt, D. (2015). Biological predictors of pharmacological therapy in anxiety disorders. Dialogues in clinical neuroscience17(3), 305.

 


Efeitos epigenéticos induzidos por estabilizadores de humor na esquizofrenia e nos transtornos afetivos

Efeitos epigenéticos induzidos por estabilizadores de humor na Esquizofrenia e nos transtornos afetivos

Por Dr. Petrus Raulino

Uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Pharmacology e realizada pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Mayo Clinic apresentou uma revisão sistemática de estudos que investigaram alterações epigenéticas induzidas por estabilizadores de humor não antipsicóticos (valproato, lítio, lamotrigina e carbamazepina).

A revisão buscou artigos científicos com modelos animais, linhagens celulares humanas e pessoas com Transtorno Bipolar, Esquizofrenia e Transtorno Depressivo Maior.

O epigenoma

Conhecer o epigenoma – a dinâmica que determina a expressão dos genes – permite saber melhor como os genes funcionam. O epigenoma responde a sinais ambientais “ligando” ou “desligando” a atividade de genes.

As alterações epigenéticas envolvem rearranjos de cromatina reversíveis que induzem padrões de expressão gênica mitoticamente hereditária, estável, de longo prazo e reversível sem alterar a sequência de DNA.

A metilação do DNA e as modificações nas histonas são as marcas epigenéticas mais estudadas em contextos fisiológicos e patológicos.

Em circunstâncias fisiológicas, os mecanismos epigenéticos controlam os processos neurobiológicos, mas a desregulação desses mecanismos pode se traduzir em um aumento do risco de desenvolvimento de doença.

Epimutações secundárias às interações gene-ambiente foram descritas como tendo um papel fundamental na fisiopatologia dos principais transtornos psiquiátricos, pois o material genético pode responder a modificações das condições ambientais.

Apesar da complexidade genética dos transtornos mentais, as evidências sugerem que o epigenoma pode ser modificado por estabilizadores de humor, potencialmente traduzindo-se em mudanças de longo prazo na evolução do transtorno.

Conclusão da pesquisa

A revisão concluiu que os dados científicos disponíveis confirmam efeitos do valproato e lítio no epigenoma de genes associados a transtornos psiquiátricos por diferentes mecanismos, sobretudo metilação de DNA e acetilação de histonas.

A revisão sugeriu que lamotrigina e carbamazepina podem ter um papel maior na ativação de mecanismos epigenéticos do que o número reduzido de estudos com esses fármacos parece sugerir.

Uma compreensão mais avançada das alterações epigenéticas induzidas por fármacos poderá facilitar no futuro intervenções personalizadas.

 

Referências

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Esteller, M. (2006). The necessity of a human epigenome project. Carcinogenesis, 27(6), 1121-1125.


Biomarcador sanguíneo ajuda a predizer demência de Alzheimer antes dos sintomas?

Biomarcador sanguíneo pode ajudar a predizer Demência de Alzheimer anos antes que os sintomas apareçam?

Por Dr. Petrus Raulino

Um estudo publicado na revista Nature Translational Psychiatry evidenciou que idosos com proteína ácida fibrilar glial (GFAP) elevada no sangue apresentam maior acúmulo de proteína beta-amilóide no cérebro, um biomarcador associado a Demência de Alzheimer.

Mas afinal, o que é a GFAP?

A GFAP é uma proteína do citoesqueleto dos astrócitos que serve como um marcador da astrogliose – ativação e proliferação anormal de astrócitos decorrente de dano neuronal.

A proteína GFAP é encontrada no cérebro, mas pode ser medida em amostras de sangue quando o cérebro é danificado pela Demência de Alzheimer A no estágio inicial.

Atualmente, não há cura ou tratamento eficaz para reverter a Demência de Alzheimer, apesar de todos os esforços científicos. Por isso, há muitos estudos recentes buscando se concentrar em programas de prevenção e identificação de populações sob risco para Demência de Alzheimer.

Esses estudos têm reportado níveis elevados de GFAP no sangue em Demência de Alzheimer precoce e tardia. Esses níveis se correlacionam inversamente com a cognição e com a extensão da lesão da substância branca.

GFAP e os sintomas inicias da Dêmencia de Alzheimer

Mas o estudo publicado na Nature Translational Psychiatry investigou se os níveis elevados de GFAP no sangue precedem o início dos sintomas clínicos da Demência de Alzheimer em idosos cognitivamente normais sob maior risco de Demência de Alzheimer.

Resultados do estudo

A pesquisa mostrou que níveis plasmáticos de GFAP aumentados em idosos cognitivamente normais foram associados a maior acúmulo de proteína beta-amilóide no cérebro.

Portanto, o nível de GFAP plasmático aumentado pode servir como um biomarcador sanguíneo inicial para identificar indivíduos cognitivamente normais sob maior risco de Demência de Alzheimer.

Em nosso conhecimento, esse foi o primeiro estudo a demonstrar níveis plasmáticos aumentados de GFAP em idosos cognitivamente normais sob risco de Demência de Alzheimer. Essas observações sugerem que os danos se iniciam no estágio pré-sintomático da Demência de Alzheimer e está associado a acúmulo de beta-amilóide no cérebro.

Mais pesquisas são necessárias para avaliar se a dosagem de GFAP poderá fazer diferença para fundamentar estratégias de prevenção contra a Demência de Alzheimer. Por enquanto, estamos de olho em novas pesquisas.

 

Referências

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