Por Dr. Petrus Raulino

Sobre os medicamentos epigenéticos

Medicamentos epigenéticos para transtornos de ansiedade ainda não são uma realidade na prática clínica, pois estão em fase de pesquisa experimental. Mas vale a pena acompanhar a evolução do conhecimento e saber sobre pesquisas em andamento. 

Os transtornos de ansiedade são transtornos mentais comuns com uma prevalência anual global de 7,3%. A idade de início desses transtornos geralmente é por volta dos 20 anos, com as mulheres tendo duas vezes mais chances de receberem o diagnóstico.

Acredita-se que fatores psicológicos e biológicos contribuam para a patogênese dos transtornos de ansiedade.

Fatores psicológicos

Os fatores psicológicos envolvidos na patogênese envolvem eventos traumáticos e estressantes da vida, especialmente durante a infância. O estresse é conhecido por ativar muitos circuitos neuronais, como os do hipocampo, e o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA).

Dentre os fatores biológicos, estão envolvidos mecanismos epigenéticos de expressão gênica, ou seja, traços complexos envolvendo múltiplos genes interagindo com fatores ambientais (não envolvendo mudanças na sequência do DNA, mas alterando a atividade de genes).

Os mecanismos epigenéticos envolvem mecanismos moleculares como metilação do DNA, hidroximetilação do DNA, modificações de histonas e regulação da expressão gênica mediada por RNA não codificador (ncRNA). 

Fatores biológicos

Fatores ambientais podem provocar alterações nos mecanismos epigenéticos.

Há evidências de que os mecanismos epigenéticos apresentam-se desregulados em praticamente todos os tipos de transtornos psiquiátricos e que esses mecanismos desregulados contribuam para a patogênese.

A importância de novas pesquisas

Existem várias classes de medicamentos eficazes para o tratamento da ansiedade. No entanto, nem todas as pessoas se adaptam aos medicamentos disponíveis atualmente, devido a efeitos colaterais ou falta de resposta terapêutica satisfatória.

Por isso, a importância de novas pesquisas. Uma classe potencial de novos medicamentos para o tratamento da ansiedade são os medicamentos epigenéticos.

Ensaios pré-clínicos e clínicos farmacológicos – ainda experimentais – usando HDACi (inibidor da histona-desacetilase) para o tratamento estão mostrando resultados favoráveis, o que permite a continuidade das pesquisas com amostras maiores de pacientes.

Conclusão

O modo de ação do HDACi em transtornos de ansiedade ainda não está claro. Mais pesquisas são necessárias para elucidar o modo de ação do HDACi no alívio dos sinais e sintomas dos transtornos de ansiedade.

Há um longo caminho a seguir nessa linha de pesquisa, mas o conhecimento científico abre novas possibilidades que poderão transformar futuramente o rol de opções terapêuticas para os transtornos de ansiedade.

 

Referências

Peedicayil, J. (2020). The Potential Role of Epigenetic Drugs in the Treatment of Anxiety Disorders. Neuropsychiatric disease and treatment16, 597.

Schiele, M. A., & Domschke, K. (2018). Epigenetics at the crossroads between genes, environment and resilience in anxiety disorders. Genes, Brain and Behavior17(3), e12423.

Stein, D. J., Scott, K. M., de Jonge, P., & Kessler, R. C. (2017). Epidemiology of anxiety disorders: from surveys to nosology and back. Dialogues in clinical neuroscience19(2), 127.

Bartlett, A. A., Singh, R., & Hunter, R. G. (2017). Anxiety and epigenetics. Neuroepigenomics in Aging and Disease, 145-166.

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