Hoje, há milhares de pessoas com transtornos mentais no mundo e no Brasil. Mesmo antes da pandemia da Covid-19, o Brasil era o país com uma maior taxa de ansiedade por habitante no mundo (cerca de 18 milhões de acordo com a OMS em 2017).A depressão, por sua vez, afetava 12 milhões de brasileiros. Era a maior taxa da América Latina.
Durante a pandemia, esses problemas se agravaram e aumentaram significativamente. Um estudo feito pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) mostrou um aumento de 90% dos casos de depressão nos meses de março e abril de 2023 e sintomas e crises de ansiedade duplicaram na mesma época.
Essas duas doenças psiquiátricas são as mais comuns, mas há várias outras que precisam de igual ou até maior atenção: de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (2022), no Brasil, há cerca de 2 milhões de pessoas com transtorno de personalidade borderline, mais de 20 milhões de pessoas com esquizofrenia no mundo e assim por diante.
E há uma grande probabilidade que existam muitas outras pessoas não diagnosticadas por conta da psicofobia (preconceito contra pessoas com doenças mentais).Pela importância do assunto, desenvolvemos um conteúdo completo explicando os principais tipos de transtornos mentais, o que são transtornos mentais, como é feito o diagnóstico, o tratamento, entre outros aspectos essenciais para o paciente e familiares. Acompanhe.
O que são transtornos mentais?
Os transtornos mentais se apresentam de formas diferentes, mas, normalmente, está associado a comportamentos anormais diante de uma situação. Eles também estão relacionados com as emoções, pensamentos e percepções do mundo real.
Para ser classificado como tal, os transtornos devem interferir significativamente na vida do paciente e também dos familiares, impedindo que ele possa ter uma qualidade de vida mínima para realizar suas tarefas do dia a dia com a maioria das pessoas conseguem fazer. Assim, ainda que alguém apresente sintomas de ansiedade ou depressão, por exemplo, não significa que tenham um transtorno mental, ou seja que tenham a patologia de fato.
Só quem pode afirmar isso é o profissional especialista (psiquiatra) com base no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), no conhecimento adquirido de outras fontes e na experiência clínica.
Tipos de transtornos mentais
Cada tipo de transtorno mental possui uma causa que, normalmente, está relacionada à redução da ação de algum neurotransmissor como serotonina, entre outros.
Assim, para falar sobre a causa, precisamos explicar cada tipo de transtorno mental. Como são muitos, escolhi os principais. Veja a lista abaixo:
Transtornos de humor

Depressão
De acordo com a OMS, estima-se que há mais de 260 milhões de pessoas com depressão no mundo e que essa doença pode se tornar a principal causa de incapacidade até 2030.
Grande parte dos pacientes apresentam os primeiros sintomas no início da idade adulta, ou seja, entre 24 e 25 anos, mas em cerca de 40% eles já podem aparecer antes dos 20 anos. Eis os principais sinais e sintomas dos transtornos depressivos:
- cansaço;
- fadiga;
- dores físicas sem explicação (somatização);
- abuso de substâncias como drogas, medicamentos para dor, entre outros;
- dor crônica (dor que permanece por semanas ou meses);
- insônia;
- ansiedade.
Várias são as causas da doença, sendo que, a influência genética já está comprovada, ou seja, parentes de pessoas com depressão têm mais chances de desenvolver a doença. Porém, os fatores ambientais, ou seja, o estilo e modo de vida da pessoa também interferem no desenvolvimento e na intensidade e frequência dos sintomas.
O fator ambiental é tão importante que em determinados momentos do ano, como os meses de inverno em que há pouca luminosidade, pode desencadear um quadro chamado de depressão sazonal.
Existem tipos diferentes de transtornos depressivos como Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor, Transtorno Depressivo Persistente, entre outros. Portanto, consultar um bom psiquiatra é essencial para descobrir o tipo.
Ao ter o diagnóstico correto, o paciente deve seguir todas as orientações do profissional. Não aderir ao tratamento ou, após iniciar, abandonar depois de um período achando que já está bem, fará com que a doença avance e o paciente pode desenvolver depressão grave.
Transtorno bipolar
De acordo com a OMS, é uma das 10 principais causas de incapacidade, no mundo, em adultos jovens. Estima-se que ¼ de todos os suicídios registrados tenham como causa o transtorno bipolar, já que os pacientes têm 20 a 30 vezes mais chances de tirar a própria vida.
Ele pode ser classificado em:
- Transtorno bipolar tipo I: há presença de, pelo menos, 1 episódio de mania ao longo da vida, podendo ser ou não acompanhado de episódio depressivo;
- Transtorno bipolar tipo II: há um episódio hipomaníaco (a mania se apresenta de forma mais leve com sentimentos como alegria e irritabilidade exacerbadas) combinado com um episódio de depressão ao longo da vida.
Esse é um dos tipos de transtornos mentais que pode ser difícil de diagnosticar, pois, a depender do momento, os sinais e sintomas podem ser parecidos com transtorno depressivo maior, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), transtorno de personalidade borderline ou TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada).
Distimia
Trata-se de um humor deprimido que perdura por bastante tempo, por mais de 2 anos para sermos exatos e que se apresenta durante a maior parte do dia e por muitos dias dentro desse período.
Em adolescentes e crianças, em vez de humor deprimido, elas podem apresentar uma irritabilidade constante. Alguns dos principais sintomas são:
- dificuldade de concentração;
- pouca energia e cansaço;
- baixa autoestima;
- se culpa excessivamente;
- indecisão constante.
Se analisarmos, são sintomas muito parecidos com os do TDAH, porém, um bom profissional será capaz de distinguir a diferença, usando os critérios do DSM-5, conhecimento e experiência acumulada ao longo dos anos.
Ciclotimia
Nesse caso, há uma alternância entre períodos de hipomania (muita euforia) e depressão. A ciclotimia é bastante parecida com o transtorno bipolar, porém, com os sintomas mais brandos. O paciente não fica sem os sintomas por mais de 2 meses e eles aparecem na maior parte dos dias causando sofrimento significativo que prejudica a execução de tarefas básicas do dia a dia.
Transtornos de ansiedade
Os principais sinais e sintomas desses transtornos estão relacionados com medo excessivo e que persiste por longos períodos, percepção de ameaças de forma amplificada, gerando uma preocupação excessiva com o futuro.Sabemos que as causas da ansiedade são multifatoriais, com alterações no sistema límbico (estruturas no cérebro responsáveis pelo comportamento, memória e controle das emoções), fatores genéticos e ambientais.
Quando não tratados, os transtornos de ansiedade podem evoluir a ponto de prejudicar a funcionalidade do paciente, limitando-o socialmente, inclusive impedindo que ele seja capaz de sair de casa por vontade própria. Há vários tipos de transtornos mentais relacionados à ansiedade:
- Agorafobia: é um medo excessivo de locais e situações específicas, por exemplo, multidões em uma festa, transporte público lotado. São casos em que o paciente não pode “fugir” do local ou não há alguém para ajudá-lo;
- Fobia social: o paciente desenvolve medo exacerbado de ser julgado negativamente em situações de interação social;
- Transtorno do pânico: ataques de pânico caracterizados por picos de ansiedade e desconforto intensos ao ponto de desenvolver sintomas físicos;
- Mutismo seletivo: o paciente não consegue falar em situações específicas como em uma apresentação no local de trabalho, na escola…, mas consegue falar normalmente em outras situações;
- Transtorno de Ansiedade de Separação: ocorre quando pessoas de grande apego emocional precisam se separar e há um sofrimento excessivo antecipado. Há pensamentos constantes sobre morte da pessoa querida;
- Fobia específica: medo irracional de algo específico como um objeto, situações como pegar o avião, medo de sangue, medo de altura e assim por diante;
- Transtorno de Ansiedade Generalizada: preocupação excessiva, maior que o necessário, de alguma situação ou de tarefas do cotidiano. Normalmente, essas pessoas apresentam dificuldade de concentração, problemas para dormir, tensão muscular e sensação de fadiga.
Lembrando que o transtorno de ansiedade pode ser tratado, eliminando os sinais e sintomas e o paciente pode voltar a desenvolver o problema em outro momento da vida.
Transtornos psicóticos

Existe um espectro da esquizofrenia, ou seja, o paciente pode ser graus variados da doença a depender dos sintomas, intensidade e frequência com que aparecem. Os principais sinais e sintomas são delírios, desorganização e alucinações.
É um dos tipos de transtornos mentais mais preocupantes por reduzir entre 10 e 20 anos a expectativa de vida do paciente, sendo que a estimativa é que 10% dessas mortes sejam por suicídio.
Mas a principal causa de mortalidade entre esses pacientes são os problemas cardiovasculares, pois eles têm menor chance de aderir a um estilo de vida mais saudável, fazendo atividade física, comendo de forma mais saudável, entre outros aspectos.E, para compreender melhor a doença, é preciso saber que existem alguns tipos de transtornos psicóticos:
- Esquizofrenia;
- Transtorno esquizofreniforme;
- Transtorno esquizoafetivo;
- Transtorno psicótico induzido por substância/medicamento;
- Transtorno psicótico breve;
- Transtorno delirante.
Assim como em outros transtornos mentais, as causas das doenças são várias. Acredita-se que o funcionamento do cérebro fica prejudicado por causa da dopamina: ela fica elevada em momentos não necessários e fica muito baixa em momentos em que deveria estar alta.
A dopamina elevada é consequência de uma reação em cadeia. Acredita-se que há uma produção excessiva de serotonina, o que aumenta a produção de glutamato que, por sua vez, aumentaria a produção da dopamina que, em excesso, seria a principal causa das alucinações e delírios.
Toda essa falta de organização na produção de neurotransmissores é uma combinação de problemas relacionados a fatores genéticos e ambientais.
Transtornos do desenvolvimento

São transtornos mentais causados por uma modificação anatômica no cérebro, ou seja, durante a formação intrauterina e também por exposições ambientais negativas ainda na primeira infância. Por isso, costumam ser diagnosticados ainda na infância, mas nada impede que a patologia seja descoberta na fase adulta.
Entre os transtornos do desenvolvimento temos os transtornos da comunicação, deficiência intelectual (DI), transtorno específico da aprendizagem, transtornos motores, transtornos de tique, TEA (Transtorno do Espectro Autista) e TDAH.
Ao longo da vida, o paciente pode apresentar mudanças no comportamento ou mesmo o desenvolvimento de outros transtornos como o transtorno do humor, síndromes psicóticas, TAG, entre outros.
Como os transtornos do desenvolvimento são uma alteração anatômica no cérebro, não há uma cura para o problema, mas é possível controlar os sintomas, especialmente os comportamentos, com uso de medicação, mudanças no hábito de vida e terapia. Entre eles, eis os mais conhecidos e prevalentes:
- TEA: os pacientes apresentam prejuízos na comunicação, nas habilidades sociais, interesses restritos, rigidez cognitiva (especialmente quanto à rotina) e comportamentos repetitivos;
- TDAH: os principais sintomas são a desatenção, dificuldade em organizar as tarefas, se distrai facilmente, esquece com frequência de cumprir tarefas do dia a dia, perde objetos e tem dificuldade em se manter fisicamente parado (hiperatividade);
- DI: o paciente apresenta dificuldade em realizar tarefas que são esperadas para a idade, pois o funcionamento intelectual está abaixo da média.
Transtornos neurocognitivos e demências
As demências se desenvolvem com o avançar da idade, atingindo, principalmente, os idosos. E como vivemos em uma época na qual observamos uma crescente expectativa de vida, elas se tornaram um grande problema para a saúde pública, sendo a principal a de Alzheimer.
As principais características das demências são a deterioração e declínio para o desempenho das AVD’s (Atividades da Vida Diária) e também uma mudança no comportamento. O paciente pode se apresentar mais agressivo que o necessário em algumas situações e pode também deixar de fazer coisas que fazia normalmente como passar a comer um alimento que não gostava.
Entre os transtornos neurocognitivos e demências, podemos citar 3 principais:
- Doença de Alzheimer: os sintomas vão depender da fase da doença, por exemplo, no estágio leve, há perda de memória recente, depressão e apatia. No estágio mais avançado, o paciente pode ter dificuldade para realizar tarefas simples como comer, caminhar e outras;
- Frontotemporal: há mudança no comportamento e na personalidade, gerando também prejuízos na fala. Os pacientes também podem ter graus variados de apatia ou desinibição;
- Com Corpos de Lewy: o paciente pode apresentar alucinações, depressão e delirium e movimentos rápidos dos olhos durante o sono.
O diagnóstico precoce é essencial para retardar o avanço da doença e dar maior qualidade de vida para o paciente e também para os familiares e cuidadores.
Transtornos da personalidade
Dentre os tipos de transtornos mentais mais conhecidos, sem dúvida que os transtornos de personalidade são um deles. Aqui, temos um quadro clínico bem diferente de um transtorno para o outro, ou seja, as características de cada um são mais específicas.
Aqui, temos uma combinação de causas como fatores genéticos e ambientais capazes de moldar o indivíduo, progressivamente, até o começo da idade adulta, estabilizando em seguida.
Um dos mais comuns é o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo). Ele é caracterizado por comportamentos repetitivos, por exemplo, para ter certeza que a casa na qual mora não vai pegar fogo, ele checa o fogão 30 vezes em um único dia ou momento do dia.
As principais características são:
- pensamentos intrusivos e indesejados que, normalmente, causam angústia;
- obsessões ou compulsões tomam mais de 1 hora por dia, causando sofrimento;
- comportamentos repetitivos como lavar as mãos excessivamente ou mesmo atos mentais como orar, repetir palavras, entre outros.
Diagnóstico e tratamento
Para isso, os especialistas usam o DSM, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A versão mais atual é a do DSM-5 e há uma lista de critérios que devem ser seguidos para diagnosticar cada um dos transtornos mentais.
Além dos critérios, também são usados os instrumentos de avaliação como a Escala Transversal de Sintomas, Escala de Gravidade das Dimensões de Sintomas de Psicose Avaliada pelo Clínico e várias outras. E há também outras abordagens médicas que são essenciais para fazer um bom diagnóstico do paciente como:
- Entrevista: é a consulta propriamente dita. É durante a entrevista que dados importantes são colhidos pelo médico como histórico familiar, situações que levaram o paciente a procurar ajuda especializada, quais medicamentos toma;
- Aplicação de questionários e escalas: durante a consulta, o médico deve aplicar, em cada caso, questionários e escalas para ajudá-lo a fechar o diagnóstico correto;
- Exames: alguns exames, tanto de imagem como laboratoriais, podem ser solicitados. Por exemplo, exames de imagem podem ser de grande ajuda para confirmar um diagnóstico de demência.
Um diagnóstico bem feito é o que vai garantir que o paciente tenha o tratamento mais eficaz e tome a medicação, se necessária, para ajudá-lo a lidar melhor com as dificuldades que encontra no dia a dia.
Opções de tratamento
Como as causas de grande parte das doenças mentais são um conjunto de diversos fatores, as opções de tratamento também devem ser variadas e alcançar cada um deles. Assim, temos o tratamento combinado abaixo:
Farmacoterapia
Na maioria dos casos, principalmente ao ter o diagnóstico, o tratamento psicofarmacológico é essencial para controlar o problema, retardar o avanço ou mesmo tratar e resolvê-lo. Dentre os principais, podemos citar: antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor e antipsicóticos.
Intervenções psicossociais
Aqui, podemos citar diversas opções como terapia interpessoal, entrevista motivacional, terapia de solução de problemas, terapia comunitária, meditação guiada, psicoeducação, ativação comportamental, TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), entre muitos outros.
Mudanças nos hábitos de vida
Está comprovado que a prática de atividades físicas melhora, consideravelmente, os sintomas de diversos transtornos mentais, assim como mudanças nos hábitos alimentares. Sendo assim, além de praticar algum exercício diariamente, se possível, o paciente precisa comer mais frutas, legumes, verduras, ou seja, alimentos de elevado valor nutritivo.
Como buscar ajuda
Há diversos transtornos mentais e, muitos deles, apresentam sintomas clínicos muito parecidos. Portanto, é essencial procurar um psiquiatra capaz de estabelecer o diagnóstico correto e iniciar o tratamento.
Dicas para iniciar o cuidado
Participe de grupos de apoio
Participar de grupos que possuem problemas parecidos com os seus pode ser de grande ajuda, pois mostra que você não está sozinho. Além disso, não há espaço para preconceitos e assim, você se sentirá mais à vontade e seguro.
Mantenha uma rede de apoio com familiares e amigos
Deixe seus familiares e amigos cientes de que a ajuda e apoio deles será fundamental nesse processo de cura ou controle da doença. As pessoas que convivem com você são de grande relevância neste momento da vida.
Consulte um psiquiatra
Quando alguém está com dor na coluna, ela vai ao ortopedista. Então, da mesma forma, quando você está com algum ou alguns sintomas relacionados a transtornos mentais, deve procurar um psiquiatra. Ele é o profissional indicado e o Dr. Petrus Raulino é altamente capacitado, com mais de 20 anos de experiência na área e possui título de especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
Agora que você já sabe o que são transtornos mentais, quais os principais tipos, como é feito o diagnóstico e as formas de tratamento, chegou o momento de escolher o profissional para te acompanhar nessa importante etapa da sua vida.
Saiba o que levar em consideração na hora de escolher o melhor especialista em saúde mental.