Por Dr. Petrus Raulino

A neuroquímica do Transtorno Bipolar é complexa e influenciada por vários genes de risco, cada qual com suas características e pequeno efeito.

Mas cada pequena peça desse enorme quebra-cabeça tem sua relevância.

Os efeitos do Transtorno Bipolar

Uma pesquisa translacional publicada na revista Neuron demonstrou que a diminuição da atividade da proteína-quinase B (Akt) pode levar a alterações cerebrais no córtex pré-frontal de homens com Transtorno Bipolar.

A Akt é um tipo de proteína que adiciona marcadores da molécula de fosfato a outras proteínas. Esses marcadores de fosfato atuam como um interruptor liga-desliga, mudando a forma como outras proteínas funcionam e influenciando funções vitais.

No cérebro, essas funções incluem aspectos da comunicação entre neurônios, podendo afetar o humor e o pensamento.

A família das proteínas Akt exerce muitos de seus efeitos celulares por meio da ativação da proteína alvo da Rapamicina (mTOR) através de uma sequência de proteínas intermediárias.

Na pesquisa, os homens com Transtorno Bipolar apresentaram atividade reduzida da via Akt-mTOR no córtex pré-frontal, uma região cerebral importante para processos cognitivos como memória e atenção.

Após observar correlação entre Transtorno Bipolar e via Akt mais silenciosa nos homens bipolares, os pesquisadores aplicaram uma abordagem translacional reversa, ou seja, o estudo foi estendido para intervenção em modelo animal.

Foram usados vírus para fornecer proteínas Akt fragmentadas ao córtex pré-frontal de camundongos. Essas proteínas fragmentadas substituíram as Akt que estavam funcionantes, inibindo a via Akt.

Em testes comportamentais, os camundongos manipulados demonstraram problemas de memória, deixando de explorar ambientes familiares.

Por outro lado, mantiveram comportamento social típico, sugerindo que a via não foi responsável por funções cerebrais mais complexas.

Ao exame do cérebro dos camundongos manipulados, observou-se que as espinhas dendríticas haviam sido danificadas.

As conexões entre neurônios ocorrem através das espinhas dendríticas. A destruição de espinhas dendríticas enfraquece as conexões neuronais e, consequentemente, o processamento cognitivo.

A hipoatividade da via Akt-mTOR no Transtorno Bipolar em homens pode ser um fator para déficit cognitivo – nos aspectos de memória e concentração.

Evidentemente, uma única via de proteínas não dá conta de explicar toda a complexidade do Transtorno Bipolar.

Mas a pesquisa é relevante, pois traz mais uma peça de um imenso quebra-cabeça. Continuamos na trilha das pesquisas.

 

Referências

Vanderplow, A. M., Eagle, A. L., Kermath, B. A., Bjornson, K. J., Robison, A. J., & Cahill, M. E. (2021). Akt-mTOR hypoactivity in bipolar disorder gives rise to cognitive impairments associated with altered neuronal structure and function. Neuron.

Gordovez, F. J. A., & McMahon, F. J. (2020). The genetics of bipolar disorder. Molecular psychiatry, 25(3), 544-559.