Por Dr. Petrus Raulino

Uma revisão de estudos científicos publicada no periódico Frontiers in Psychology demonstrou que uma grande proporção de sobreviventes da COVID-19 pode ser afetada por complicações neuropsiquiátricas e cognitivas.

Efeitos da COVID-19

Evidências sugerem que os pacientes com COVID-19 desenvolvem sintomas neurológicos como cefaleia, alteração de consciência e parestesia. Edema cerebral e neurodegeneração parcial também foram encontrados em autópsia.

Além disso há relatos de que o vírus tem o potencial de causar danos no sistema nervoso central. Juntos, esses achados apontam para um possível papel do vírus no desenvolvimento de sintomas psiquiátricos agudos e sequelas neuropsiquiátricas de longo prazo.

As manifestações psiquiátricas agudas de COVID-19 relatadas são aumento do estresse, ansiedade e depressão.

O vírus pode ter um papel direto ou indireto de ativar neuroinflamação, predispondo o organismo para manifestações psiquiátricas.

No curto prazo, 20-40% dos casos de COVID-19 podem apresentar complicações como eventos cerebrovasculares, cefaleia, tontura, encefalopatia, anosmia, ageusia e problemas de humor.

No longo prazo, há a hipótese de que manifestações psiquiátricas podem ser provocadas como consequência de fatores biológicos da COVID-19, estigmas ou memórias, e amnésia associada aos cuidados intensivos.

As manifestações psiquiátricas podem ser observadas na forma de aumento da incidência de depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e, em certos casos, doenças mentais graves.

Fonte: Kumar e col., 2021.

Sequelas do novo coronavírus

Atualmente, ainda desconhecemos as sequelas neuropsiquiátricas de longo prazo da COVID-19.

No entanto, podemos especular seus efeitos a partir de nossa compreensão dos mecanismos da COVID-19 no sistema nervoso central e também das evidências dos efeitos neuropsiquiátricos de longo prazo provocados pelos vírus SARS-CoV-1 (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e MERS- CoV (Síndrome Respiratória do Oriente Médio).

Através de estudos científicos cuidadosos e detalhados sobre o histórico dos casos acompanhado por exames de neuroimagem e avaliações neuropsicológicas padronizadas, a natureza complexa das apresentações neuropsiquiátricas da COVID-19 poderão ser melhor compreendidas.

Isso ajudará a esclarecer se os problemas neuropsiquiátricos e cognitivos são uma consequência direta de anormalidades estruturais do cérebro ou são uma reação ao potencial estresse físico e mental associado ao enfrentamento da COVID-19 pelo organismo.

Por enquanto, as duas hipóteses somadas são viáveis. Estamos de olho.

 

Referências

Mao, L., Jin, H., Wang, M., Hu, Y., Chen, S., He, Q., … & Hu, B. (2020). Neurologic manifestations of hospitalized patients with coronavirus disease 2019 in Wuhan, China. JAMA neurology, 77(6), 683-690.

Kumar, S., Veldhuis, A., & Malhotra, T. (2021). Neuropsychiatric and Cognitive Sequelae of COVID-19. Frontiers in Psychology, 12, 553.