Por Dr. Petrus Raulino
Uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Pharmacology e realizada pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Mayo Clinic apresentou uma revisão sistemática de estudos que investigaram alterações epigenéticas induzidas por estabilizadores de humor não antipsicóticos (valproato, lítio, lamotrigina e carbamazepina).
A revisão buscou artigos científicos com modelos animais, linhagens celulares humanas e pessoas com Transtorno Bipolar, Esquizofrenia e Transtorno Depressivo Maior.
O epigenoma
Conhecer o epigenoma – a dinâmica que determina a expressão dos genes – permite saber melhor como os genes funcionam. O epigenoma responde a sinais ambientais “ligando” ou “desligando” a atividade de genes.
As alterações epigenéticas envolvem rearranjos de cromatina reversíveis que induzem padrões de expressão gênica mitoticamente hereditária, estável, de longo prazo e reversível sem alterar a sequência de DNA.
A metilação do DNA e as modificações nas histonas são as marcas epigenéticas mais estudadas em contextos fisiológicos e patológicos.
Em circunstâncias fisiológicas, os mecanismos epigenéticos controlam os processos neurobiológicos, mas a desregulação desses mecanismos pode se traduzir em um aumento do risco de desenvolvimento de doença.
Epimutações secundárias às interações gene-ambiente foram descritas como tendo um papel fundamental na fisiopatologia dos principais transtornos psiquiátricos, pois o material genético pode responder a modificações das condições ambientais.
Apesar da complexidade genética dos transtornos mentais, as evidências sugerem que o epigenoma pode ser modificado por estabilizadores de humor, potencialmente traduzindo-se em mudanças de longo prazo na evolução do transtorno.
Conclusão da pesquisa
A revisão concluiu que os dados científicos disponíveis confirmam efeitos do valproato e lítio no epigenoma de genes associados a transtornos psiquiátricos por diferentes mecanismos, sobretudo metilação de DNA e acetilação de histonas.
A revisão sugeriu que lamotrigina e carbamazepina podem ter um papel maior na ativação de mecanismos epigenéticos do que o número reduzido de estudos com esses fármacos parece sugerir.
Uma compreensão mais avançada das alterações epigenéticas induzidas por fármacos poderá facilitar no futuro intervenções personalizadas.
Referências
Gardea-Resendez, M., Kucuker, M. U., Blacker, C. J., Ho, A. M. C., Croarkin, P. E., Frye, M. A., & Veldic, M. (2020). Dissecting the epigenetic changes induced by non-antipsychotic mood stabilizers on schizophrenia and affective disorders: a systematic review. Frontiers in pharmacology, 11, 467.
Esteller, M. (2006). The necessity of a human epigenome project. Carcinogenesis, 27(6), 1121-1125.