Por Dr. Petrus Raulino
A resposta à questão não é definitiva, e nem se deve estimular o uso de antidepressivos. Essa classe de medicação só deve ser usada se indicada por um médico após criteriosa avaliação.
Estudo sobre o uso de antidepressivos para COVID-19
Dito isto, um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry mostrou a associação entre o uso de antidepressivos e a redução do risco de intubação ou morte entre pacientes adultos admitidos com COVID-19.
Este estudo retrospectivo observacional multicêntrico incluiu dados sobre todos os pacientes adultos com COVID-19 admitidos em qualquer um dos 39 hospitais AP-HP da Grande Universidade de Paris no início da pandemia.
O uso de antidepressivo foi definido como receber qualquer antidepressivo durante as primeiras 48 horas da admissão hospitalar e antes do final da internação hospitalar, intubação ou óbito.
Resultados do estudo
Apesar das limitações do estudo, o mesmo demonstrou que o uso de antidepressivos em doses usuais foi associado à redução substancial do risco de intubação ou morte de pacientes hospitalizados com COVID-19.
Embora o achado seja relevante, vieses estatísticos podem acontecer e, por isso, novos estudos são necessários. Em especial ensaios clínicos duplo-cegos randomizados controlados são importantes para fundamentar mudanças sobre tratamentos médicos.
A associação observada entre o uso de antidepressivos e redução do risco de intubação ou morte, se for comprovada, poderia ser explicada por diversos mecanismos, segundo os autores do estudo.
- Em primeiro lugar, estudos anteriores sugerem que vários antidepressivos podem inibir a atividade da esfingomielinase ácida, o que pode prevenir a infecção de células epiteliais contra o SARS-CoV-2.
- Em segundo lugar, vários antidepressivos são agonistas de receptor sigma-1, o que pode prevenir a tempestade de citocinas observada em COVID-19 grave.
- Terceiro, o uso de antidepressivos pode se associar a níveis plasmáticos reduzidos de vários mediadores inflamatórios associados a COVID-19 grave, incluindo IL-6, IL-10, TNF-? e CCL-2.
- Por fim, certos antidepressivos podem potencialmente exercer efeitos antivirais no SARS-CoV-2.
Conclusão
Se a associação entre uso de antidepressivo e redução do risco de intubação ou morte por COVID-19 for confirmada em pesquisas que determinem eficácia, ainda assim mais estudos serão necessários para determinar os mecanismos exatos subjacentes a essa associação.
Por enquanto, os achados e as hipóteses acima não são definitivos, mas garantem o estímulo para aprimorar os avanços de novas pesquisas. Estamos de olho.
Referências
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